Cuiabá | MT 19/03/2024
Gabriel Novis Neves
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Sexta, 25 de outubro de 2013, 09h15

Falta de tempo

É comum receber reclamações de amigos da minha faixa etária queixando-se que, atualmente, falta-lhes tempo para tudo.

Uma colega espirituosa inventou que acorda com várias vassouras, simulando o excesso de trabalho que irá enfrentar no decorrer do dia.

Nessas ocasiões, lembro-me muito da minha mãe. Ela dizia, quando a visitava, que não tinha tempo para nada, do alto os seus noventa e dois anos de idade.

Acordava sem sono de madrugada e, no final do dia, não conseguia cumprir nem metade das suas tarefas programadas. Tentava acalmá-la dizendo ser essa atividade um excelente sinal de vitalidade e saúde.

São certas pessoas que, apesar da idade avançada, já na marca do pênalti, não perderam o sentido belo da vida.

Elas, quando saem para um restaurante, procuram os que já conhecem e tomam o cuidado de reservar a mesa predileta para não ficar na fila de espera, coisa insuportável para um idoso elegante.

Geralmente assistem a filmes quando a crítica é favorável, pois não têm mais tempo para experiências desastrosas. Procuram sempre o certo para evitar o retorno a casa com o sabor do “não valeu à pena”.

Gosto muito das pessoas ocupadas, pois estas não estão mais disponíveis a viver experiências novas e enriquecedoras.

Perder tempo é para os jovens.

O idoso sabe daquilo que gosta e até aprecia mais os prazeres juvenis. A única diferença existente entre o jovem e o idoso é que este não tem mais tempo para desperdiçar.

Nas viagens, preferem algumas cidades já bastante conhecidas. No meu caso, Rio de Janeiro e Buenos Aires.

Fico sempre nos mesmos hotéis, procuro os mesmos restaurantes, a mesma mesa, o mesmo prato e de preferência o garçom de sempre.

Estamos na fase em que não há mais tempo para perder com bobagens, e jogar a falta de tempo nas costas da solidão.

“Tempo disso, tempo daquilo, falta o tempo de nada”. Carlos Drummond de Andrade. 

Gabriel Novis Neves é mèdico em Cuiabá e ex-reitor da UFMT
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