Cuiabá | MT 19/03/2024
Gabriel Novis Neves
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Terça, 28 de janeiro de 2014, 10h30

Ser velho

Vinicius de Moraes disse certa vez que muitas pessoas com o avançar dos anos, e com a proximidade da morte, “começam a fechar as portas do seu passado”.

Talvez, por pudor, os idosos não gostem de mostrar a sua decadência física ou mental. No meu entender, é um ato de pura proteção contra comentários de alguns jovens: “gozem a vida que ainda lhes resta”.

Qualquer idoso, sem a “Doença do Alemão”, percebe isso com facilidade, especialmente quando está em lugares públicos.

Os “brotos”, atualmente "galera", de um modo geral, detestam idosos, principalmente sem uma boa identidade (cartão de crédito).

Essa invenção capitalista tem o poder da transformação: transformam velhos gagás em jovens simpáticos, com futuro brilhante pela frente, pois, afinal, a expectativa de vida vem aumentando dia a dia.

Esse cartão é tão maravilhoso, que é um símbolo de cultura, dado a sua possibilidade de se exprimir em vários idiomas.

É o companheiro ideal que um velho tem para, com conforto, e em ditas boas companhias, dar a volta ao mundo.

E, com que satisfação, os garotos dizem que o cartão é milagroso e resolvem todos os seus anseios.

No caso do velho, ajuda, e muito. Não resolve, mas dá para enganar.

A figura do idoso criada pela sociedade é de um poupador contumaz - muitas vezes irrita seus herdeiros quando a gorda poupança demora a chegar às suas mãos.

O velhinho não é bem visto gastando o seu dinheiro ganho com anos de trabalho.

É interpretado como um dilapidador do patrimônio da família. O velho ideal é o sofredor. A alegria maltrata os jovens, que reinvidicam esse sentimento de prazer como sendo deles.

O bom velhinho é o hipocondríaco, que não tem limites para pagar consultas médicas, exames laboratoriais e uso indiscriminado de medicamentos, alguns ainda em fase de experimentação.

Velho namorar é visto como alguém irresponsável, já com o pé na cova.

Velho alegre, só o desconhecido. É enquadrado como personagem folclórico. O aceitável é o depressivo ou com uma doença incurável.

Ficar em casa com reumatismo esperando a morte também compõe o perfil do velho ideal.

Ser velho no Brasil, este país tropical, das praias, dos jovens e do carnaval, é uma arte difícil de elaborar. 

Gabriel Novis Neves é mèdico em Cuiabá e ex-reitor da UFMT
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