Cuiabá | MT 23/04/2024
Gabriel Novis Neves
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Sexta, 19 de abril de 2013, 12h32

Queria entender

Quando havia programas humorísticos na televisão, lembro-me de um quadro que terminava sempre com o seguinte bordão: “Eu só queria entender”.

Essa é a minha situação no momento, e acredito ser também a de milhões de brasileiros.

O país está paralisado discutindo dois assuntos: o novo casamento da Daniela Mercury com uma jornalista e apresentadora de TV e o caso do pastor Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

A cantora está na curva descendente da sua carreira, precisando de forte mídia para não ser esquecida.

O tal do pastor foi eleito por seus colegas para a dita Comissão, e chegou ao Congresso Nacional montado em mais de duzentos mil votos.

Enquadra-se perfeitamente no perfil dos seus colegas e pertence à base de sustentação política do governo de trinta e nove ministérios, por enquanto.

Sua eleição para a Comissão foi visando tempo de televisão do seu partido e, principalmente, a captura dos votos dos seus crentes.

Tudo feito e combinado tendo em mira a reeleição da presidente, que para atingir seu objetivo de permanecer mais uma temporada no Alvorada, já declarou que faz negócio até com o demônio, inimigo do pastor.

Quando tenho tempo, antes de dormir, não deixo de dar um passeio pelos inúmeros canais de TV que transmitem os cultos religiosos.

Como é fácil abrir uma igreja no Brasil! Mais simples ainda é arranjar os dízimos para comprar uma estação de TV ou horas de programação em horários nobres, e naqueles nem tão nobres assim.

Em todas as religiões os dogmas estão presentes. “Os princípios dogmáticos são crenças básicas pregadas pelas religiões, que devem ser seguidas e respeitadas pelos seus membros sem nenhuma dúvida”.

Entretanto a proliferação dessas crenças chega a assustar - o que é um sinal evidente que há um enorme mercado consumidor para a aquisição da fé.

O cenário dos programas e os conteúdos colocados à disposição do público são sempre os mesmos:

O pregador à frente do público falando aos gritos e enfaticamente, com a intenção clara de emocionar os fiéis. Além disso, os pregadores se utilizam de ingredientes que fogem do normal: milagres, sinais, prodígios, exorcismos e curas.

Todos esses benefícios são possíveis pela generosa doação dos dízimos.

Inúmeros obreiros são treinados no recebimento “espontâneo” dessas doações, cobradas repetidas vezes durante o culto.

O pastor Feliciano repete exatamente aquilo que outros colegas de igrejas, de nomes diferentes, pregam, e não são incomodados.

É um pai caridoso que alerta os seus milhares de seguidores para cumprirem em dia com os seus deveres religiosos para o bem deles.

Um atraso no pagamento poderá anular uma graça recebida.

Lembra que na sua igreja há muita gente que deu calote em Deus e arcou com as consequências.

Diante dos inúmeros protestos, com movimentos de rua, manifestação de artistas e intelectuais contrários a sua presença na Comissão da Câmara dos Deputados - em um país tão injusto socialmente, onde a educação e a saúde de péssima qualidade oferecida pelo governo aos pobres não sensibiliza ninguém - e, diante da insignificância do pastor agora famoso, fico a lembrar do bordão.

E como ficam os outros presidentes de Comissões condenados por crimes contra o patrimônio público e condenados pelo Supremo Tribunal Federal?

Deixo claro que jamais votaria no pastor, para deputado federal e muito menos para a presidência de qualquer comissão.

Também nada a censurar sobre o casamento da cantora baiana.

Eu só queria entender o que está acontecendo no Brasil.

“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas." (Walter Willians). 

Gabriel Novis Neves é mèdico em Cuiabá e ex-reitor da UFMT
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