Cuiabá | MT 28/03/2024
Adamastor Oliveira
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Segunda, 05 de março de 2012, 15h31

Garrafas ao mar

Nesses tempos de ameaças de ataque norte-americano ao Irã e de verbalização do medo por oficiais reformados no Brasil, são bem oportunos os versos de Maiakóvski recitados por João Bosco (http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=5tS2d_ESQbU): “E então, que quereis?.../Fiz ranger as folhas de jornal/ abrindo-lhes as pálpebras piscantes./ E logo/ de cada fronteira distante/ subiu um cheiro de pólvora/ perseguindo-me até em casa./ Nestes últimos vinte anos/ nada de novo há/ no rugir das tempestades./ Não estamos alegres,/ é certo,/ mas também por que razão/ haveríamos de ficar tristes?/ O mar da história/ é agitado./ As ameaças/ e as guerras/ havemos de atravessá-las,/ rompê-las ao meio,/ cortando-as/ como uma quilha corta/ as ondas.”

Desta minha ilha tenho lançado garrafas com mensagens nesse imenso mar de Maiakóvski, pela imensidão de bits e bytes da rede mundial de computadores.

E elas seguem sem rumo e sem leme, levando o meu Norte pra todo lugar, carregando minhas esperanças e Deus queira que alcancem muitos corações.

Trafegam codificadas pela minha língua, em zeros e uns, conduzidas por correntes, elétricas ou não, induzindo ou não ondas que se concatenarão às almas precisadas nalgum lugar, na vastidão dos muitos universos, ou simplesmente esperarão pacientemente sua decodificação.

As páginas/pálpebras continuam a ranger e a piscar, como alhures, mas agora, cada vez mais, também cintilam - velozes, silenciosas e em alta definição - através pixels lançados em cores muito mais fortes e com odores muito mais aterrorizantes do que os dos explosivos químicos de outrora.

As ameaças de hoje agravam-se e não rugem como tempestades, nos assombram com rosas que não falam. Elas arrasam, devastam e exterminam. E o mar não é agitado, é “tsunâmico”.

Confortemo-nos com versos de Olavo Bilac: “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo/ Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,/ Que, para ouvi-las muita vez desperto/ E abro as janelas, pálido de espanto...”

Pois são dessas muitas janelas, desses muitos mundos existentes em cada ser que ouve estrelas é que sairão vozes que não tolerarão o silencio dos que dormem diante das ameaças veladas.

E as ameaças são crescentes, mas nossas quilhas são mais numerosas, mais ágeis e nossos ouvidos mais preparados, e, portanto, mais fortes; “E eu vos direi: "Amai para entendê-las!/ Pois só quem ama pode ter ouvido/ Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Ainda que precisemos de muitas primaveras mais, lançando garrafas ao mar, por certo, no fim, tudo acabará bem e assim, teremos ainda infinitas Vias Lácteas ao nosso alcance... 

Adamastor Martins de Oliveira - Cidadão de Mato Grosso e-mail: adamastorm@yahoo.com.br
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