Cuiabá | MT 29/03/2024
Jorge Mortean
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Quinta, 22 de dezembro de 2016, 19h26

O Estado nosso de cada dia

Creio que algo seja unânime: qualquer criança no mundo, quando nasce, não tem consciência de si. Ela não sabe se ela nasceu num lar muçulmano, cristão, judeu, hindu, ateu, se ela é indígena, negra, branca, asiática, se ela é brasileira, moçambicana, indiana, ou que o Pelé é melhor que o Maradona, ou vice-versa.

Ela não sabe o que são deuses, santos, padres ou pastores, ela não sabe o que é direita ou esquerda, ela não fala nenhuma língua. Ela não sabe se ela nasce já com sete milhões de reais em conta ou se foi vítima de um estupro coletivo, ela não difere ninguém por classe social, ela não tem parâmetros de nada. Ela não é violenta pois é livre de qualquer preconceito.

Todo ser humano nasce pré-formatado e a sociedade em que ele cresce o molda. Seu caráter, portanto, vai sendo determinado principalmente por conta do ambiente em que a criança vive, em todos os seus aspectos categóricos: políticos, culturais e econômicos, sobretudo. Um processo chamado educação.

A questão que mora na outra ponta dessa linha chamada vida é justamente, portanto, a falta da educação: em outras palavras, a violência. Essa, sim, é o trabalho final de quando a maioria dos parâmetros sociais falta a um ser humano. Erroneamente, muitos pensam que a violência é a raiz dessas disfunções, e tendem a tratá-la com um agente causador e não como um sintoma. É assim que a violência finalmente nunca é resolvida.

Essa abordagem, além de tudo, mascara inclusive o conceito bem senso comum do que é violência. Geralmente, há a tendência de ligarmos conceitualmente violência à criminalidade, ou seja, a atos brutais que atentam à uma vida alheia. Logo, sob um viés mais político, trago aqui uma perspectiva mais assertiva e interessante: se todos nós vivemos sob a égide de um Estado, aparelhado em suas leis que nos geram deveres e direitos, então esse Estado, quando dito violento, é basicamente aquele que, infelizmente, não só usa seus aparatos de segurança e justiça de forma criminosa contra seus cidadãos como também, e principalmente, quando ele é 'omisso'. É aquele Estado que se nega a 'educar' seus cidadãos, a tratá-los com dignidade, não fornecendo aquilo que basicamente se comprometeu em cumprir na sua Carta Magna (no nosso caso: ensino, saúde e moradia gratuitos e de qualidade para todos).

Um Estado violento, como o nosso, não é aquele que é temido somente pela criminalidade oficiosa que gera, mas também pela omissão de seu papel institucional. Ele tem a chance, todos os dias, a cada eleição, de nos formatar corretamente, para nos tornarmos pessoas melhores, porém insiste em não fazê-lo. Ele não nos educa, logo somos violentos. E por não termos o mínimo de educação, não temos crítica social. Acabamos não saindo da lama em que o nosso próprio Estado nos coloca, deixando um país inteiro sem perspectivas. Sobreviver neste país, no final das contas, é uma luta diária contra um Estado que nos violenta. Então vamos falar sobre o quão criminoso é o Estado brasileiro?

Jorge Mortean ? Geógrafo formado pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Estudos Regionais entre América Latina e Oriente Médio, professor de Relações Internacionais e Consultor geopolítico.

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