Cuiabá | MT 16/04/2024
Rodrigo Vargas
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Sexta, 31 de outubro de 2014, 11h53

Lição das urnas

Em junho de 2013, no auge dos protestos que tomaram as ruas das grandes capitais brasileiras, os desígnios do jornalismo me colocaram na boleia de um caminhão que partiu de São Paulo em direção ao Porto de Pecém, na região metropolitana de Fortaleza.

Atravessaríamos quatro estados do Nordeste, incluindo algumas das regiões mais afetadas por uma seca que, mais tarde, seria descrita como a pior em 70 anos. Preparei-me para testemunhar as mesmas cenas de flagelo que, quando criança, acompanhava pelo Globo Repórter.

Não foi o que encontrei. Mesmo nas cidades mais atingidas, não se ouviam relatos de grandes migrações forçadas pela estiagem. Em Ouricuri e Araripina, no interior de Pernambuco, visitei pequenas propriedades rurais a produzir verduras e legumes irrigados.

Por todos os lugares, a combinação de políticas de complementação de renda com a instalação de cisternas para a captação e armazenagem de água havia conseguido virar um jogo que milhões perdiam por goleada.

Em vez de apenas sobreviver à seca, ou seguir em direção ao superlotado Sudeste, vi uma porção de gente aprendendo a conviver com o semiárido (como os cuiabanos convivem com o calor ou os paraenses, com a umidade amazônica). Não me pareceu um cenário de estagnação e conformismo, mas de crescimento e oportunidades.

Lembrei-me vivamente daquela experiência ao me deparar com comentários preconceituosos sobre a região que deu as vitórias mais expressivas à reeleição de Dilma Rousseff. Os mais diplomáticos mencionavam uma suposta reedição do voto de cabresto.

Sem saber, os tucanos e seus aliados davam sobrevida a uma das principais marcas que, em minha opinião, os levaram a perder o Planalto em 2002 e a fracassar nas três tentativas seguintes de retomá-lo: a dificuldade de assumir, de forma enfática e sincera, o combate à absurda desigualdade brasileira como prioridade.

Nossa desigualdade não encontra paralelo em nenhum país civilizado. Limita nossa economia, desperdiça talentos e sobrecarrega os grandes centros urbanos. Reverter este cenário é tarefa básica, independentemente da bandeira ideológica.

Neste sentido, havia muitas brechas a serem exploradas pela oposição. Um exemplo é a absurda transposição do São Francisco, que foi mencionada pelo tucano apenas em seu viés mais "escandaloso": o atraso nas obras.

Havia vários outros motivos para se criticar a obra, que vai torrar bilhões para favorecer prioritariamente um seleto e bem relacionado grupo de grandes produtores.

Aécio não apresentou sequer uma alternativa. E havia muitas, algumas já testadas com sucesso e que poderiam de fato universalizar o abastecimento de água às populações mais carentes da região.

O semiárido de hoje não é o mesmo da década de 1980. Os jumentos foram todos substituídos por motos novinhas. Se continuar a desmerecer o recado das urnas da região, a oposição irá apenas consolidar o apoio conquistado ali pelo PT.

Rodrigo Vargas é jornalista em Cuiabá e repórter do jornal Diário de Cuiabá E-mail: rodrigovargas.cba@gmail.com
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