Margaret Sullivan, sugere ser fundamental detalhar ao público como funciona a atividade jornalística /Reprodução |
Principal algoz das notícias falsas espalhadas nas redes sociais, o jornalismo está sob ataque pesado. Grupos e governos interessados em manipular as pessoas – e com isso obter vantagens – estão empenhados em desqualificar a imprensa com as mesmas armas que utilizam para confundir os usuários da internet, entre elas a mentira, o boato e a farsa. Aproveitam-se do desconhecimento do público de boa parte das práticas jornalísticas para difamar o jornalismo. Por isso, detalhar como funciona a atividade jornalística passou a ser fundamental, sugere a ombudsman do The Washington Post, Margaret Sullivan, em sua coluna mais recente.
Uma das situações comuns ao jornalismo que parece ser de difícil compreensão à audiência, diz Margaret, é o uso de fontes cuja identidade não é revelada, a fonte anônima. "Muitas pessoas parecem pensar que, quando usamos fontes anônimas, nem sabemos quem elas são", afirmou o repórter do The Washington Post, Wesley Lowery. No jornalismo profissional, entretanto, o cuidado com a fonte anônima vai além do conhecimento do repórter a respeito dela.
No Houston Chronicle, por exemplo, conta Margaret, quando repórteres querem usar informações de uma fonte sem nome em uma notícia eles de aprovação de um editor sênior, a quem é revelada a identidade do informante. Além disso, ima única fonte sem nome raramente é suficiente para continuar com uma história. Deve haver duas fontes com o mesmo conhecimento. "A única exceção à regra de duas fontes é quando temos uma ‘fonte dourada’ – por exemplo, o chefe de polícia falando sobre uma investigação", explicou Nancy Barnes, editora executiva da Chronicle. Processo semelhante repete-se nas principais organizações de notícias, afirma Margaret.
A jornalista destaca também a tentativa da organização de extrema-direita Project Veritas de, a partir de um vídeo, passar a ideia de que os repórteres The Washington Post atuam como os editorialistas que escrevem a opinião do jornal, muitas vezes crítica ao presidente Donald Trump. “O Project Veritas aproveitou o fato de que os consumidores de informação não fazem uma distinção entre repórteres de notícias e editorialistas. Dentro do prédio do Post, porém, essa divisão é clara. Os repórteres e os editores de notícias se esforçam para garantir imparcialidade. Em contraste, editorialistas e colunistas não só têm permissão para ter opinião, como esta é uma função de seus trabalhos”.
Richard Tofel, presidente da organização de pesquisa sem fins lucrativos ProPublica, disse à Margaret desejar que o público compreenda o quão sério os jornalistas atuam para evitar erros. "A precisão é o primeiro requisito que os jornalistas têm um do outro, por exemplo, quando se considera contratação ou promoção. As correções (e até mesmo erros não corrigidos) são emblemas de desonra."
ANJ