Prefeitos de cidades com potencial econômico e populacional bem maior preferiram investir em benefícios, enquanto que Alto Garças torra dinheiro com o carnaval sem pagar reposição de professores
Redação PlantãoNews
O uso de dinheiro público para a realização do Carnaval popular na cidade de Alto Garças (365 km ao Sul de Cuiabá) – o Garça Folia - está sendo motivo de críticas por parte de vereadores e de populares. Além da suspeição quanto ao alto montante que será gasto, a falta de pagamento dos reajustes salariais do professores desde 2013, deficiências na estrutura de um berçário improvisado na Escola Agrícola e até mesmo questões sobre os gastos com os referidos eventos em anos anteriores são motivos que provocam as reações.
Ostentando o slogan “O melhor carnaval da região Sul de Mato Grosso”, o prefeito da cidade, Júnior do Pitucha (PR), não é nada comedido e está instalando uma mega estrutura. O trecho de uma rua ao lado do Ginásio de Esportes foi fechada com tapumes, deixando moradores isolados. Estão sendo montados palcos e camarotes, com um grande sistema de som e iluminação. Serão seis bandas entre 13 e 17 de fevereiro: Sanfonaço (cidade não localizada), Nossa Levada (Votuporanga – SP), Mauricio e Luciano (Brasília-DF), Jeito Nosso (Votuporanga – SP), Simples Desejo (não localizada a cidade) e Axekebon (São José do Rio Preto), além de vários dj’s.
Leia mais:
Alto Araguaia cancela Carnaval e investirá R$ 350 mil em escola
Em dezembro do ano passado no aniversário da cidade, não houve inaugurações. Apenas shows de gospel a axé, com bandas nacionais. O valor gasto não se tem conhecimento.
O município tem uma população de aproximadamente 9 mil pessoas, a grande maioria trabalhadores rurais. A arrecadação mensal gira em torno de R$ 1,5 milhão. A suspeita é que o custo com o carnaval 2015 chegue a R$ 400 mil reais.
Direito e indignação
Moradores da cidade não concordam com o gasto exagerado da festa, enquanto que municípios com maior potencial econômico cancelaram o evento para investir em saúde e educação, como é o caso de Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde, no Norte de Mato Grosso, e ainda São José do Rio Claro.
Na cidade de Alto Araguaia, distante 50 km de Alto Garças, o prefeito Maia Neto vai investir R$ 350 mil na reforma de uma escola, dinheiro que seria gasto com o carnaval da cidade de pouco mais de 15 mil habitantes. Até mesmo a capital mato-grossense, Cuiabá, se redimiu diante da questão financeira. Gastos previstos de R$ 400 mil baixaram para R$ 250 mil, levando o prefeito Mauro Mendes a fazer cortes e ajustes.
O vereador Davi Fraga de Carvalho, o Badu, (do Democratas), classifica a conduta do prefeito como insensata. “Nosso município é carente e é uma incoerência fazer um evento com todo esse gasto” – aponta Badu, ressaltando que “em cidades com maior potencial econômico e populacional estão reduzindo os gastos ou até mesmo cancelando os carnavais, direcionando o investimento naquilo que a população cobra: saúde, educação e infraestrutura”.
Badu adverte para o fato de que o prefeito Júnior do Pitucha não está pagando a diferença salarial conquista pelos profissionais da Educação, concedida na gestão do ex-prefeito Roland Trentini. Com uma liminar judicial fez acabar a greve dos professores que cobravam seus direitos e, pior, não paga a eles o que está na lei.
“Temos a questão da creche onde foi improvisado um espaço, na Escola Agrícola, para poder atender as crianças do município que estão instaladas em situação precária. Falta lençol, travesseiro, enfim o básico” – denuncia Badu.
O também vereador Carlos Eduardo Zanchet Girardello, o Cadú, também do Democratas, critica o prefeito, afirmando que ele poderia ter uma postura mais comedida, cuja conduta vem desde o primeiro ano da gestão, quando o carnaval custou R$ 250 mil reais, com despesas nada transparentes. “Há prioridades que devem ser atendidas” – diz ele.
Ambos frisam que são a favor do evento, pois é um direito do povo, mas da forma que está sendo feito, afeta outros setores da população.
“A Biblioteca Municipal, bem estruturada, que funcionava próximo do maior número de escolas, foi transferida para uma sala minúscula em frente ao presídio e está fechada” – aponta Badu, ressaltando que o Ministério Público está cobrando sua adequação. O berçário da creche, improvisado no Colégio Agrícola, não tem camas, berços e sequer lençol para as crianças e mais uma vez teve o Ministério Público que exigir um Termo de Ajustamento de Conduta.
_ “Onde está o direito do povo. Onde estão suas conquistas, o respeito ao cidadão? O que se faz é por cobrança do Ministério Público, então logo o cidadão é avacalhado e o prefeito prioriza festas, gastos sem respeitar o cidadão que paga impostos e precisa da Saúde, da Educação, da Infraestrutura” – alerta o vereador Badú.