R$ 133 bilhões para a infraestrutura. R$ 91 bilhões para se construir 10 mil quilômetros de ferrovia e outros R$ 42 bilhões para 7,5 mil quilômetros de rodovias. Montante reservado às hidrovias: zero. O pacote lançado pelo Governo Federal com investimentos pelos próximos 25 anos não prevê aportes para alavancar o último modal, que no Brasil representa apenas 4% da matriz de transporte de cargas.
"Infelizmente, a hidrovia foi novamente esquecida pelo governo. O Brasil perde muito em não priorizar esse modal. Temos rios caudalosos, com capacidade para tornar o país mais competitivo, menos oneroso e mais atraente para empreendendores", afirmou Homero Pereira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e deputado federal por Mato Grosso.
No estado, as entidades que representam o agronegócio afirmam ser preciso ter as atenções voltadas para o modal hidroviário como forma de viabilizar opções para o escoamento da produção agrícola.
"Ainda não se falou sobre as hidrovias, mas é fundamental explorar esse modal que é mais eficiente, reduz em 95% a emissão de CO2 (gás carbônico) e é o mais barato do mundo", afirmou Carlos Fávaro, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja).
"Não podemos perder essa oportunidade porque temos rios no centro da produção de grãos em nosso estado e duas hidrovias altamente viáveis, como a Teles Pires-Juruena-Tapajós e do Paraguai-Paraná", considerou ainda.
Nelson Piccoli, diretor administrativo e financeiro da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), diz que mesmo ficando fora do plano do Governo, os projetos de hidrovia só podem sair do papel se realmente haver condições de implementá-los.
"Claro que a hidrovia é o melhor modelo para o transporte de mercadoria. É mais barata, econômica e ambientalmente correta. Mas não adianta apenas planejar se não haver condição [de viabilizar o projeto]", manifestou.
A esperança das entidades, conforme destaca Edeon Vaz Ferreira, coordenador-executivo do Movimento Pró-Logística, é que a nova estatal criada pelo Governo Federal, para atuar no planejamento da malha de transportes, atente-se para a necessidade de renovar o sistema brasileiro de transportes.
"O programa deveria ter dado importância maior às hidrovias. Mas pelo menos agora disseram que vão estudar as hidrovias", afirmou.
Faltam eclusas
Mas para que as hidrovias sejam viabilizadas, o próprio setor produtivo reconhece: o primeiro desafio a ser superado é a construção de eclusas junto às usinas hidrelétricas para viabilizar a navegação nos rios. Faltam definições do próprio governo para a exução de ambos projetos concomitantemente.
Somente em Mato Grosso prevê-se nos próximos anos a construção de 11 usinas hidrelétricas espalhadas pelos rios Tapajós, Arinos, Juruena e Teles Pires. No entanto, não se tem a confirmação se as eclusas serão construídas paralelamente. Mesma realidade do Brasil. Somente no rio Tapajós serão três hidrelétricas (São Luis Tapajós, Jabotá e Chacorão) e onde devem ser erguidas quatro eclusas.
No rio Teles Pires, com quatro hidrelétricas (São Manoel, Teles Pires, Sinop e Colíder, prevê-se a construção de seis eclusas. Uma em São Manoel, de duas a três em Teles Pires, uma eclusa em Colíder, além de uma última na região de Cachoeira Rasteira, em Apiacás, onde se pleiteia a construção de um porto.
Já no rio Arinos, onde serão construídas quatro hidrelétricas, vão ser quatro eclusas. Somente a região Amazônica possui 43 mil quilômetros de rios e lagos considerados em condições navegáveis (no Brasil soma 63 mil). Mas ao se mensurar aqueles que permitem a navegação comercial chega-se a um universo de 15,5 mil quilômetros, de acordo com o Ministério dos Transportes.
Outra preocupação consiste no encarecimento dos custos das obras caso as eclusas sejam construídas posterior às barragens. O valor gasto com a eclusa, quando feita paralelamente, pode equivaler a 7% do investimento total. Posterior à conclusão das barragens, vão consumir 30% do valor do empreendimento, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).