Ribeirinho Cidadão: Reconhecimento de beneficiados motiva ação

 Ações sociais chamam atenção normalmente, mas quando uma infinidade de serviços é levada à população carente que mora em uma das áreas mais inóspitas do mundo em determinados períodos do ano, aonde se chega apenas de embarcação ou a cavalo, esta ação tem uma repercussão maior ainda. O Projeto Ribeirinho Cidadão já beneficiou milhares de pessoas em seus cinco anos de atuação em três municípios da região pantaneira de Mato Grosso.

Mas a emoção para quem trabalha nesta ação sempre motiva o retorno dos voluntários e servidores públicos. O oftalmologista Jesus Aparecido Dias, que participou do evento no ano passado, chora ao perguntarmos sobre a importância desse trabalho. “A cada atendimento que realizamos e conseguimos amenizar o sofrimento das pessoas, que muitas vezes enxergam mal em decorrência de um problema simples, resolvido com um colírio ou a utilização de óculos, a alegria e a gratidão deles nos bastam. Eu recomendo que todos tentem doar um pouco de seu tempo em prol do próximo. É muito gratificante”, disse o médico emocionado.

O optometrista, Paulo Sassaki, que trabalha em parceria com o médico, explicou que os óculos e medicamentos são doações de empresários que não acompanham os trabalhos, mas fazem questão de ajudar. “Não são voluntários, mas contribuem conosco e principalmente com estas pessoas necessitadas”, enalteceu.

O juiz José Antônio Bezerra, que iniciou as ações do projeto, não consegue evitar a emoção. “Como ser humano é uma benção de Deus. É bom saber que podemos nos doar e ajudar estas pessoas. O ato por si só é válido”, comentou o magistrado.
Para o defensor Air Praeiro, responsável pela ação por parte da Defensoria Pública do Estado, a ação representa a resolução de conflitos e a facilitação em busca dos direitos dos cidadãos. “Quando vemos os olhos de gratidão da população beneficiada é emocionante. Portar um simples documento que passa a demonstrar a existência dele ao seu país vai mais além da inclusão social. Em anos anteriores, um senhor de 78 anos, sem nenhum documento até então, que conseguiu sua certidão de nascimento, quis beijar minha mão, para se ter idéia do que representa para eles. Por isso saímos daqui sorrindo, em saber que conseguimos ajudá-los”, ponderou o defensor.

Os serviços oferecidos pelo projeto inluem a prestação jurisdicional, como o pedido de pensão alimentícia, certidões de nascimento e a oficialização de casamentos. A diferença é que como os ribeirinhos têm dificuldades em se deslocar, as decisões judiciais são tomadas na mesma oportunidade. Em caso de pedidos de pensão por exemplo, se a mãe tiver o endereço do pai a citação é feita no mesmo momento, um policial ou oficial de justiça vai até o local e já acompanha a parte até a presença do juiz, que determina o pagamento e também regulamenta as visitas à criança, solucionando os problemas de ambas as partes. No caso da emissão de documentos, servidores da Politec, responsável pela identificação técnica, emitem as carteiras de identidade durante o atendimento. O mesmo documento é utilizado para o cumprimento de um dever e também um direito: o título eleitoral.

Os servidores do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT) salientam que mesmo distantes de grandes centros a participação e o interesse em escolher seus representantes é grande. “Muita gente tem esse senso de cidadania e faz questão de retirar o título e votar. Sabem da importância dessa atitude, por isso é quase indescritível o que sentimos. Eles saem daqui dizendo que vão votar nas próximas eleições, são pessoas carentes, mas com a vontade de mudar a situação da maneira correta”, pontuou o servidor Roberto Vidal. A expectativa é de que 500 atendimentos referentes a título e situação cadastral sejam realizados nesta edição. São mais cidadãos com poder de mudança do Brasil.