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Pesquisa/Tecnologia
Quinta, 18 de junho de 2015, 20h22

Pesquisa translacional pode levar a fármaco contra imunossupressão após sepse


Diego Freire | Agência FAPESP - Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID, na sigla em inglês), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP, podem estar próximos de identificar o primeiro alvo farmacológico para tratamento de pacientes que desenvolvem imunossupressão após quadro de sepse.

As pesquisas em torno do novo alvo foram apresentadas durante o First International Symposium on Inflammatory Diseases, realizado pelo CRID na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) de 9 a 11 de junho.

De acordo com Fernando Queiroz Cunha, professor da FMRP-USP e coordenador do CRID, o objetivo foi ampliar a pesquisa translacional na área de doenças inflamatórias.

“Como um dos objetivos do CRID é a realização de pesquisa translacional, encontramos na realização do simpósio uma oportunidade de reunir cientistas que trabalham com doenças inflamatórias, tanto na pesquisa básica como na clínica, para travar discussões sobre achados experimentais com o objetivo de desenvolver novas estratégias para o tratamento de pacientes – ou, ainda, coletar questões originadas na vivência clínica e que possam ser respondidas na bancada, sempre com o objetivo de aprimorar os tratamentos atualmente em uso”, disse à Agência FAPESP.

Os pesquisadores tentam desenvolver novos medicamentos e propostas diagnósticas para doenças inflamatórias de origem infeciosa, autoimune ou metabólica. Para isso, realizam experimentos em laboratório, com auxílio de animais geneticamente modificados, e clínicos, por meio de sequenciamento de RNA extraído da amostra de pacientes.

Nesse contexto, um dos objetivos é a descoberta de alvos farmacológicos para o tratamento da sepse, síndrome caracterizada pelo desenvolvimento de uma resposta inflamatória sistêmica, principalmente em decorrência de uma infecção bacteriana. Em alguns casos, o intenso quadro inflamatório, iniciado na fase aguda da doença, pode ativar a produção de mediadores anti-inflamatórios e imunossupressores, levando ao desenvolvimento de um estado conhecido como imunossupressão induzida após a sepse.

“Na tentativa de controlar a proliferação bacteriana que ocorre nesses casos, o sistema imune desses pacientes inicia a produção de uma série de moléculas, os mediadores anti-inflamatórios. A característica da fase aguda ou inicial é o desenvolvimento de uma resposta pró-inflamatória, mas em alguns pacientes essa resposta perdura, levando a um estado de imunossupressão, caracterizado pelo aumento de um tipo celular chamado de linfócito T regulador (Tregs)”, explicou Raphael Gomes Ferreira, da FMRP.

A pesquisa apresentada por Ferreira no simpósio busca entender os mecanismos moleculares associados ao aumento dessa célula em pacientes que sobrevivem à sepsia. Para isso, os pesquisadores induziram a doença em camundongos, tratando-os com antibióticos e simulando o que ocorre na clínica com humanos.

De acordo com Ferreira, já se sabia que a enzima indolamina 2,3-dioxigenase (IDO) está associada à redução da resposta do sistema imune em outros contextos. Essa enzima foi encontrada, recentemente, na placenta de mulheres grávidas – considerando que o feto é um corpo estranho para o organismo da mãe –, e pesquisadores descobriram que ela é importante para que o sistema imune o “tolere”, exercendo um papel imunossupressor.

Com base nessa informação e em outras evidências na literatura científica, os pesquisadores do CRID chegaram à hipótese de que a IDO estaria de alguma forma associada à expansão dessas células Tregs durante o desenvolvimento da imunossupressão nos camundongos.

Eles, então, quantificaram a expressão dessa enzima no baço de animais imunossuprimidos e constataram que há um aumento da IDO a partir do sétimo dia após a sepsia e que ela continuava expressa até o 15º dia.

Estratégia de prevenção

Os pesquisadores também observaram que há não apenas aumento da quantidade da enzima, mas também da sua atividade no 15º dia após a sepsia, e que ela está expressa em um tipo celular específico, as células dendríticas, que compõem o sistema imunológico e auxiliam na identificação de agentes agressores, como bactérias e vírus.

“Há evidências na literatura de que a IDO expressa nessas células consome seu metabólito, o triptofano, um aminoácido essencial, e gera um produto que é a quinurenina. Tanto o consumo do triptofano como a produção de quinurenina ativam vias nas células do sistema imune associadas ao aumento de linfócitos T reguladores. Demonstrado que há um aumento da IDO e da atividade dessa enzima na célula em que ela está expressa, a dendítrica, é possível supor que a inibição dessa enzima tenha como consequência direta a redução da quantidade de linfócito T regulador”, explicou.

Para testar a hipótese, os pesquisadores, após induzirem sepse no modelo animal e tratá-lo com antibiótico para que ele sobrevivesse e pudesse desenvolver o quadro de imunossupressão, passaram a tratar a condição com o inibidor da enzima, o 1-DL-metil-triptofano.

Após o tratamento, no 15º dia, os pesquisadores coletaram o baço do animal e avaliaram a frequência dos linfócitos T reguladores, demonstrando sua redução e comprovando a eficácia da abordagem.

Para assegurar que a inibição da enzima deixasse o animal menos imunossuprimido, foi introduzida no modelo a célula B16-F10, um tipo de célula de melanoma que expressa a enzima luciferase, a mesma encontrada nos vagalumes.

“Sabe-se da literatura que em um animal imunossuprimido a célula tumoral encontra menor resistência por parte do sistema imune, conseguindo crescer mais facilmente. Então, trabalhamos com um animal submetido a sepse e tratado com salina e outro com o mesmo quadro tratado com o inibidor da IDO”, contou o pesquisador.

No animal submetido a tratamento com salina, foram observadas muitas células T reguladoras, que suprimem o sistema imune – que, por sua vez, não consegue combater o tumor, levando a célula tumoral a crescer muito. Já no animal tratado com o inibidor foi verificada redução das células T reguladoras, fazendo com que o sistema imune trabalhasse com mais eficiência e combatesse o crescimento da célula tumoral, estando menos imunossuprimido.

Segundo Ferreira, a identificação da IDO como participante do processo de imunossupressão a torna um importante alvo farmacológico e estratégia de prevenção.

“Talvez tratar um paciente imunossuprimido com o inibidor dessa enzima seja uma abordagem interessante. É preciso agora entender o que leva ao aumento da IDO e identificar quais os mecanismos associados a ele no paciente imunossuprimido, o que possibilitaria que o indivíduo fosse tratado antes mesmo de desenvolver o quadro de imunossupressão.”

Ainda não existe no mercado um tratamento farmacológico para pacientes que entram em estado de imunossupressão após a sepsia, o que faz com que muitos acabem morrendo em decorrência de infecções nosocomiais, aquelas contraídas no ambiente hospitalar, ou mesmo infecções bacterianas simples ocorridas em casa e facilmente tratadas em pacientes que não estejam imunossuprimidos.  




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