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Pesquisa/Tecnologia
Quinta, 21 de junho de 2018, 07h07

Livro aborda dificuldades para a inovação no Brasil


A inovação no Brasil enfrenta diversos entraves. Economia protegida e fechada, burocracia excessiva, baixa internacionalização de empresas e de universidades e pouco interesse do setor privado em inovar estão entre os principais problemas.

Essa é a conclusão da economista Fernanda De Negri, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no livro Novos Caminhos para a inovação no Brasil, lançado no dia 11 de junho no auditório da Fapesp. A publicação, elaborada a partir de entrevistas com parlamentares brasileiros e empreendedores, teve apoio da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) e do Wilson Center Brazil Institute, em Washington.

As conclusões apresentadas na publicação também foram expostas na Câmara dos Deputados, em Brasília (12/06), e na sede da Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep), no Rio de Janeiro (13/06).

“O livro tem uma análise muito interessante do problema da inovação no Brasil. Fico naturalmente satisfeito de ver a Interfarma interessada em um projeto desses. A missão da Fapesp é encorajar a atividade científica, tecnológica e de inovação no Brasil. Para isso, temos convênios de colaboração com algumas empresas e gostaríamos de ampliar esse leque”, disse José Goldemberg, presidente da Fapesp, durante o lançamento do livro.

Segundo ele, as multinacionais que atuam no Brasil poderiam ou deveriam se abrir mais para a colaboração com grupos de pesquisa brasileiros. “Esse debate é uma excelente oportunidade para discutir inovação no Brasil e qual o papel que empresas multinacionais podem representar nesse desenvolvimento”, disse.

No livro, De Negri traz uma sistematização de todos os fatores que afetam a inovação e muitos dos quais, ela afirma, não são consenso entre especialistas em inovação. Ela explica que existem três fatores principais – pessoas, infraestrutura e o ambiente – para a inovação. Todos os três são influenciados pelas políticas públicas, formando um ecossistema propício ou não para a inovação.

O livro mostra que, apesar de haver avanços importantes no país, ainda falta muito no ecossistema brasileiro de inovação. Seja nos três fatores principais, seja nas políticas públicas, é difícil inovar no Brasil.

“Muito menos que olhar o lado vazio do copo, a motivação nesse livro foi ver o que podemos fazer para melhorar o ecossistema de inovação. Tivemos avanços, mas há ainda muita coisa que precisamos fazer e rápido”, disse.

Ambiente

Um dos destaques entre os entraves da inovação brasileira está na economia fechada e com alto índice de proteção. “Isso limita a inovação. O motor para uma empresa inovar é ter um competidor para roubar o seu mercado. Ninguém gosta de ouvir isso, mas o Brasil está sempre nas últimas posições de ambiente de negócio”, disse De Negri.

No livro, De Negri afirma que a burocracia excessiva e um ambiente de negócios pouco dinâmico dificultam que os novos conhecimentos produzidos nas universidades se transformem em novos produtos. “Um ambiente econômico estimulante e competitivo tende a impelir as empresas a inovar e a buscar o conhecimento produzido pela universidade”, disse.

A economista destaca também que, além de financiar pesquisa e a produção de conhecimento científico nas universidades, cabe ao Estado desenvolver políticas que proporcionem a inovação nas empresas.

“Seja a partir de incentivos propriamente ditos, seja a partir de mais competição, o Estado deve criar esse ambiente mais favorável, onde o custo de fazer negócio não seja tão alto e onde as empresas se sintam pressionadas a criar novos produtos, ou vão perder mercado”, disse à Agência Fapesp.

Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, é preciso incluir as empresas privadas na discussão sobre como inovar no Brasil.

“Nessa discussão sobre como melhorar a inovação, pouco se fala das empresas. Tenho a impressão de ser um problema de foco. As empresas no Brasil têm uma agenda em pesquisa e desenvolvimento limitadíssima. Quantas patentes as empresas daqui têm? Vinte e nove por mil pesquisadores. Na Coreia do Sul é cerca de mil por mil. Por que os pesquisadores que trabalham em empresas na Coreia do Sul conseguem ter mais ideias que no Brasil?”, disse.

Baixo conhecimento de ciência

Há também muito o que avançar em relação à geração de conhecimento no país. Segundo De Negri, embora tenha havido um maior desempenho científico nos últimos anos, o Brasil tem menos cientistas e engenheiros em relação à população total do que a maioria dos países desenvolvidos. Outro problema está na baixa qualidade da educação e uma ciência pouco internacionalizada.

“O Brasil é sempre um dos últimos países no exame Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos], que mostra que nossos estudantes têm dificuldades em matemática. Não dá para fazer inovação em um país em que a maioria das pessoas não sabe fazer uma média simples e tem pouco conhecimento de ciência”, diz De Negri.

Para Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Fapesp, o Brasil criou uma situação sui generis nesse sentido. “A formação de engenheiros per capita no Brasil continua sendo medíocre, assim como de cientistas em geral se compararmos com o resto do mundo. Inventamos uma jabuticaba: como crescer em inovação sem ter cientista ou engenheiro?”, disse.

Quanto à infraestrutura, há uma situação curiosa. “No Brasil, temos relativamente uma estrutura atualizada, porém de pequeno porte. Talvez seja uma lacuna a trabalhar, desenvolver estruturas grandes e multifuncionais”, disse Pacheco.

De Negri lembrou que no Brasil, assim como em outros países também, a produção do conhecimento científico nas universidades é muito financiada pelo Estado e a falta de estabilidade e de continuidade nesses investimentos é um importante problema.

“O Estado tem não só esse papel de investir em pesquisa e desenvolvimento e não é o único agente que investirá em pesquisa e desenvolvimento. Mas uma das funções das políticas públicas é colocar recursos em P&D especialmente em pesquisa básica, que é onde as empresas privadas colocarão menos recursos, já que estão orientadas para o desenvolvimento de produtos”, disse. 

Agência Fapesp




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