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Pesquisa/Tecnologia
Terça, 06 de julho de 2021, 13h38

Papel de fungos e bactérias na ativação de genes associados ao câncer de cabeça é elucidado


Estudo realizado in vitro elucidou como fungos e bactérias podem ativar genes relacionados a tumores de cabeça e pescoço. O trabalho mostrou que o metabolismo de biofilmes (comunidades onde bactérias e fungos se organizam de forma estruturada e coordenada) pode estimular essas células tumorais, favorecendo vias de sinalização celular relacionadas ao desenvolvimento do tumor e à resistência ao tratamento. Os resultados trazem informações inéditas sobre a relação entre biofilmes microbianos e o comportamento das células desses tipos de câncer.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, demonstrou que os metabólitos secretados pelo biofilme (secretoma) podem modular a expressão de proto-oncogenes e genes do ciclo celular relacionados ao crescimento e à sobrevivência das células tumorais. A análise de expressão gênica teve como alvo duas vias de sinalização (EGFR/RAS/RAF/MEK/ERK e EGFR/PI3K/AKT/mTOR) que desempenham um papel crucial nos eventos relacionados à proliferação, diferenciação e sobrevivência das células tumorais. Alterações da expressão gênica em tais vias são muito prevalentes em diversos tumores.

Os cientistas analisaram células de carcinoma espinocelular de orofaringe e da cavidade oral – o tipo de câncer de boca mais comum e que leva a alterações nos aspectos funcionais e estéticos do indivíduo – e as estimularam com metabólitos de biofilmes de Candida albicans (fungo) e Staphylococcus aureus (bactéria). Esses microrganismos são encontrados com frequência em usuários de próteses dentárias – de 30% a 40% dos pacientes apresentam ambas as espécies.

Trabalhos anteriores já haviam alertado para a importância do papel do microbioma no desenvolvimento de cânceres. Mas, diferentemente de outros tipos de tumores, que têm identificados alguns marcadores genéticos relacionados à presença de microrganismos, como os de estômago, em relação aos de cabeça e pescoço não há consenso de quais genes são mais prevalentes. Tampouco existem, até o momento, marcadores moleculares para esses tipos de câncer, sobretudo os HPV negativos (não associados à infecção pelo papilomavírus humano), que apresentam pior prognóstico.

“Os resultados apontam para o fato de que metabólitos de biofilmes de C. albicans e S. aureus podem interromper a homeostase de células epiteliais orais normais e neoplásicas. Isso altera a expressão de genes importantes como CDKN1A, Bcl-2, PI3K, BRAF, hRAS e mTOR, causando assim um distúrbio na viabilidade celular, sobrevivência e no perfil do ciclo celular”, descrevem os pesquisadores em artigo publicado na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.

O estudo teve apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto também contou com auxílio do COLCIENCIAS/SAPIENCIAS (convocatoÌÂÂria doctorados en el exterior 2015) e parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara.

Entender o ciclo celular é importante porque o câncer se caracteriza pela divisão descontrolada das células, que tendem a ser agressivas, invadindo tecidos e órgãos, e podendo se espalhar para outras regiões do organismo. Falhas nos inibidores desse ciclo e a sinalização excessiva de reguladores da divisão celular podem levar ao desenvolvimento e à progressão do tumor.

Já o microbioma oral é uma comunidade diversificada de microrganismos (chega a reunir até 700 espécies entre vírus, protozoários, bactérias e fungos), que podem desenvolver biofilmes. Uma das consequências desse desenvolvimento é a produção de moléculas (metabólitos) que alteram a resposta imunológica e podem levar, por exemplo, à inflamação crônica e produção de substâncias carcinogênicas.

Segundo Paula Aboud Barbugli, professora da Faculdade de Odontologia da Unesp (FOAr) e coorientadora da pesquisa, o trabalho mostrou que “moléculas secretadas por estes microrganismos em biofilmes podem modular atividades celulares no hospedeiro, mesmo em sítios distantes do foco infeccioso primário”.

Para o professor da FOAr Carlos Eduardo Vergani, orientador da pesquisa, os resultados já podem servir de alerta no tratamento de pacientes oncológicos que fazem uso de prótese dentária. “O controle do biofilme, com a higienização da prótese e da cavidade oral, é importantíssimo, pois minimiza os processos inflamatórios, como mostramos em estudos anteriores e neste publicado agora, onde apontamos a interferência na expressão de genes relacionados à progressão do tumor”, afirma Vergani, em entrevista à

FAPESP 




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