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Sexta, 27 de julho de 2018, 11h25

Escândalos do Facebook elevam a desconfiança dos investidores na rede social


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Os investidores deram ao Facebook nesta semana um claro recado de estarem preocupados com o comprometimento de seus investimentos pela forma como a rede social conduz seus negócios, enredados em escândalos. A crise de credibilidade sem precedentes da empresa comandada pelo bilionário Mark Zuckerberg envolve a propagação de ódio, desinformação e notícias falsas; falta de garantias de privacidade; métricas insufladas; e, mais recentemente, a reação à forma como seus executivos tentam driblar o problema de conteúdos indevidos sem assumir suas responsabilidades de mídia – como, por exemplo, ter uma clara política editorial. Isso tudo vem desagradando usuários, anunciantes, acionistas e até alguns executivos da companhia. Agora, abalou o mercado.

Nesta quinta-feira (26), as ações do Facebook despencaram 18,96%, levando a empresa a registrar a maior perda diária em valor de mercado para uma companhia na história de Wall Street. Em um dia, o Facebook perdeu quase US$ 120 bilhões. A queda ainda é reflexo da divulgação, na quarta-feira (25), por parte da rede social, de uma receita abaixo das projeções e de desaceleração em seu crescimento no segundo trimestre de 2018, além de reduções nas margens operacionais nos próximos anos. Ontem, o Facebook amargou uma queda de 20% nas suas ações após o fechamento do mercado, em Nova York. Em algumas horas, a gigante da tecnologia perdeu quase US$ 130 bilhões em valor de mercado.

O relatório trimestral divulgado na quarta-feira mostra que a receita total cresceu 43%, para US$ 13,2 bilhões, abaixo da projeção de consenso, de US$ 13,4 bilhões, no período encerrado em junho. O ritmo de crescimento na base de usuários do Facebook desacelerou. Havia sido de 13% no segundo trimestre de 2017 e agora caiu para 11%.

“A credibilidade do Facebook com investidores foi afetada. Se os resultados e projeções fossem bons, o impacto poderia não acontecer. Mas não foi o caso”, disse ao jornal O Estado de S.Paulo o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Pedro Waengertner. Em relação ao número de usuários, o especialista disse que “continuar crescendo em número de usuários já era um desafio por si só. Com o escândalo, ficou ainda mais difícil”.

Rede social “não é imbatível”

O jornalista Kurt Wagner, do site especializado em tecnologia e comunicação Recode, chegou a afirmar na terça-feira (24) que, apesar de todos os problemas causados pela rede social e da inabilidade de seus executivos em encontrar soluções sem mexer minimamente no modelo de negócios, a empresa se revelava quase imbatível. “Se você é Wall Street, pelo menos, nenhuma dessas falhas parece importar. Com seu estoque em alta, a gigante da mídia social parece invencível”, escreveu Wagner.

Depois da divulgação dos resultados da rede social no segundo trimestre, entretanto, Wagner publicou novo texto no qual revela uma nova visão. “O Facebook não é invencível. Mas não é tão surpreendente quanto pensamos que o seja”, disse. A reação instintiva é, comentou o jornalista, assumir que as pessoas estão finalmente fartas dos problemas de privacidade do Facebook. “A rede social deu às pessoas razões para desconfiar da empresa repetidas vezes nos últimos 18 meses. Talvez, os usuários possam finalmente estar cansados”.

Ao analisar as explicações do Facebook, o jornalista do Recode disse que a empresa não forneceu nenhuma boa desculpa para a desaceleração do crescimento dos usuários. Na verdade, assinalou Wagner, o Facebook insinuou que isso poderia ser um problema persistente. A rede social, inclusive, divulgou uma nova métrica, que chama de "público familiar": o número total de indivíduos únicos que usam pelo menos um dos aplicativos da empresa. “Esse número é de 2,5 bilhões de pessoas, o que é enorme. Mas parece ser um novo e brilhante status para criar distração em relação aos antigos problemas. Concentrar-se nessa audiência total pode dar ao Facebook a chance de mascarar os problemas de crescimento de usuários de alguns de seus produtos individuais”, comentou.

Desaceleração

O número de usuários da maior rede social do planeta atingiu, no fim de junho, 2,23 bilhões de usuários ativos mensalmente – aumento de 1,54% na comparação com o primeiro trimestre de 2018. É o menor ritmo de crescimento de usuários da empresa em três anos – e metade da média para o período, que ficou acima de 3% por trimestre. Em mercados desenvolvidos, o resultado foi pior: nos Estados Unidos, a empresa ficou estável em 241 milhões de usuários. Na Europa, onde uma nova legislação de privacidade de dados entrou em vigor em maio, o Facebook perdeu 1 milhão de usuários, caindo para 376 milhões de cadastros ativos todos os meses.

Além disso, os gastos da companhia subiram consideravelmente no período, devido à necessidade de investimento por parte do Facebook com a segurança e a privacidade dos usuários, em resposta ao escândalo da Cambridge Analytica, envolvendo uso indevido de dados de quase 90 milhões de usuários da rede social na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016. No segundo trimestre, as despesas totalizaram US$ 7,3 bilhões, crescimento de 48% na comparação com o mesmo período do ano passado.

O lucro do Facebook, entretanto, cresceu 31%, para US$ 5,1 bilhões, exatamente o valor esperado por analistas, e CEO e fundador do Facebook, Zuckerberg, procurou mostrar otimismo em comunicado. Disse que a comunidade da empresa e seus negócios crescem rapidamente. “Temos o compromisso de investir para manter as pessoas seguras e protegidas e para continuar a criar maneiras novas e significativas de ajudar as pessoas a se conectarem”, afirmou.

Explicações

Em conferência com investidores, o diretor financeiro da empresa, David Wehner, atribuiu o mau resultado à nova lei da União Europeia, que restringe a atividade de empresas de tecnologia e pode aplicar multas de até 4% de sua receita global. Ele também procurou preparar os investidores para um cenário de continuidade no recuo na expansão da receita nos próximos trimestres. “É uma combinação de fatores, entre câmbio, foco em novas experiências, como (as mensagens efêmeras) Stories, e (medidas para) dar mais poder de privacidade aos usuários”, disse Wehner.

O ritmo de crescimento nas despesas deve continuar a subir nos próximos meses, informou o executivo financeiro. As margens operacionais da empresa, afirmou, devem se estabilizar em cerca de 30% pelos próximos três anos. No último trimestre, o porcentual ficou em 38%; entre janeiro e março, o indicador havia marcado 41%.

Napalm em fogo

Brian Wieser, analista do Pivotal Research Group, disse que o Facebook “está em declínio”, segundo a Bloomberg. O Credit Suisse, de acordo com o site Busness Insider, anunciou que os anúncios feitos pelo Facebook antes da queda em Wall Street podem apontar para uma "nova crise existencial". Em nota, cujo título afirma que o Facebook jogou Napalm em fogo, o banco de investimento Barclays disse não ter tal “impressão desastrosa" desde o "massacre" do LinkedIn em fevereiro de 2016, quando a empresa caiu mais de 40%, levando o Nasdaq para baixo.

O comunicado do Barclays, entretanto, alerta para a possibilidade de o Facebook estar criando um ambiente de menos pressão, evitando criar a percepção de enriquecimento “enquanto seu produto apresenta problemas para a sociedade". O Goldman permaneceu relativamente otimista quanto ao Facebook, sugerindo que viu os sinais de alerta em mensagens anteriores de Zuckerberg e de outros executivos.

Analistas do Macquarie, ainda de acordo com o Business Insider, disseram que os resultados do Facebook refletem mudanças estruturais para o futuro. "Isso deve ser bem-vindo, porque em nossa visão a trajetória de longo prazo não está em terreno sólido, já que questões crescentes de privacidade, regulamentação de governos em constante evolução e hábitos de usuário apresentam ameaças existenciais à saúde do Facebook”, disseram.

Os mesmos especialistas comentaram sobre um possível novo caminho para a rede social norte-americana. "O potencial para o Facebook oferecer aos consumidores uma opção de assinatura sem anúncios está no seu nível mais elevado. Além da privacidade, estamos vendo os consumidores cada vez mais à vontade para pagar por conteúdo digital”.

ANJ




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