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Homens encapuzados, partidários do presidente Daniel Ortega, intimidaram nesta semana os trabalhadores da empresa ND Medios, um dos grupos de comunicação mais importantes da Nicarágua, informou o jornal O Estado de S.Paulo nesta quinta-feira (26). Trata-se de mais um dos ataques rotineiros à imprensa no país nos últimos meses, dentro do aprofundamento da repressão do governo de Ortega em meio a uma crise política que já resultou em mais de 350 mortos.
“Elementos encapuzados e armados se instalaram na noite de quarta-feira (25) diante das instalações da empresa de comunicação ND Medios, que publica os jornais El Nuevo Diario, Metro e Q’hubo, para projetar na fachada do edifício um vídeo com propaganda contra os protestos, que qualificaram de terrorismo”, denunciou o grupo de mídia.
Os paramilitares projetaram um vídeo no qual se lia: “justiça para as vítimas do terrorismo golpista”. Testemunhas disseram que eles apontavam armas para o edifício. “Os funcionários que ainda estavam dentro das instalações tiveram de deixar o local por uma saída de emergência por sua segurança”, informou El Nuevo Diario.
Na segunda-feira, o jornal Folha de S.Paulo reportou que relatos de agressões e de equipamentos roubados são comuns. Os jornalistas locais, conforme o diário paulista, não têm nenhuma instituição a quem recorrer nem para onde fugir. “Todos os dias, antes de sair para trabalhar, mando uma foto para minha mãe”, disse o repórter Wilmer Benavides, do canal 12, ao jornalista Fabiano Maisonnave, da Folha de S.Paulo. “Assim, ela saberá como estou vestido caso desapareça.”
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e entidades de defesa à livre expressão, como a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), vem condenando reiteradamente os ataques sistemáticos à imprensa. Os apelos parecem ser ignorados pelo governo do país.
No começo deste mês, jornalistas e bispos da igreja católica foram atacados por centenas de partidários do presidente Ortega e forças paramilitares que invadiram a Basílica de San Sebastian, em Diriamba. Além de agredidos e ameaçados, muitos dos profissionais de comunicação também foram roubados em seus documentos pessoais, celulares e equipamentos de trabalho. Câmeras de vídeo foram destruídas.
No último dia 28 de junho, um grupo de jornalistas independentes da Nicarágua rejeitou as agressões e apontou diversos ataques contra jornalistas, incluindo o assassinato do jornalista Miguel Ángel Gahona, em abril, enquanto filmava um enfrentamento entre manifestantes e policiais na localidade costeira de Bluefields, e o incêndio na Rádio Darío, no mesmo mês, bem como ameaças contínuas de morte recebidas pelo proprietário do veículo, Aníbal Toruño, sua família e colegas de trabalho.
O medo está em todas as redações. No La Prensa, chapas de metal protegem portas e janelas do prédio onde fica a sede do jornal, numa tentativa de impedir os ataques das turbas que defendem o governo. Na emissora de televisão 100 % Noticias, a diretora de notícias, Lucía Pineda, contou que agentes policiais roubaram câmeras de vídeo, e que agora os repórteres cobrem os protestos em equipes ou viajam a zonas de perigo ao lado de organizações humanitárias. Wilfredo Miranda, do site independente Confidencial, revelou que teve de se mudar após receber ameaças e notar mascarados próximos de sua antiga residência.
ANJ
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