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Saúde
Segunda, 13 de outubro de 2014, 15h59

Manter o peso após redução do estômago exige mudança de hábitos e disciplina


Brasil está em segundo lugar entre os países que mais realizam cirurgia bariátrica

Assim que acorda, o engenheiro de computação Otávio Gloria, 24 anos, prepara o café da manhã. Ovos cozidos, castanhas e chás sem açúcar predominam no cardápio, em um hábito que ainda hoje surpreende a mãe. Há seis anos, a primeira refeição do dia eram quatro pães franceses com manteiga e meio litro de achocolatado. O menu mudou quando, em 2008, inspirado pela experiência bem sucedida dos pais, o jovem se submeteu a uma cirurgia bariátrica.

Doze anos antes, a aposentada Marta Regina Campos Velho Gloria, 62 anos, era a primeira da família a realizar o procedimento. O segundo foi o pai, Newton Roque Gloria, 55 anos, que sofria de diabetes. Mas Otávio não foi o último da lista. Meses depois de realizar a operação e perder mais de 60kg, foi a fonte de inspiração para o irmão mais novo, Frederico Gloria, 22, que, assim como ele, sofria de obesidade mórbida.

A família Gloria reflete uma tendência mundial, na qual o Brasil está no segundo lugar na lista de países que mais realizam procedimentos de redução de estômago no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Somente em 2013, foram 80 mil cirurgias. Só o Rio Grande do Sul – apontado pelo IBGE como o Estado com maior proporção de obesos do país – contabiliza mais de 5 mil operações.

A administradora Laury Job, 66 anos – 39ª paciente do Centro de Obesidade Mórbida da PUCRS a realizar a cirurgia –, orgulha-se de quando decidiu se submeter ao procedimento, há 12 anos:

– Eu era muito gorda, pesava 120 quilos e tinha bastante dificuldade para caminhar, sofria de pressão alta, baixa autoestima. Na época, os procedimentos cirúrgicos não eram tão avançados, e ninguém conhecia muito bem. Mas quis fazer mesmo assim.

Em poucos meses, Laury já se sentia bem ao se olhar no espelho e voltou a se exercitar. Passados alguns anos, enquanto vivia um conturbado momento familiar, voltou a engordar, alcançando novamente 100 quilos. Foi quando se deu conta de que o fato de fazer a cirurgia não garantia o peso ideal para sempre. Para isso, era preciso ter um acompanhamento profissional.

– Voltei a cuidar a alimentação, mas de uma forma mais consciente. Hoje, com uma nutricionista, já baixei 10 quilos. Aprendi que a pessoa deve ter disciplina para permanecer no peso que deseja – diz Laury.

 

Alterar hábitos é difícil para alguns

Na casa dos Gloria, a reeducação alimentar também foi fundamental para o sucesso dos procedimentos. Nos primeiros meses após a cirurgia, quando o consumo de alimento é bem restritivo devido às alterações fisiológicas, foi preciso focar na mudança de hábitos. Aprenderam sobre a importância nutricional de cada alimento e conseguiram encontrar um equilíbrio. Refrigerante, antes uma regra, hoje aparece tímido na geladeira cheia de frutas e vegetais.

Com a perda de peso, veio o aumento de autoestima e animação. Até então sedentários, todos passaram a se exercitar. Marta, que mede 1m57cm e hoje pesa 50kg, vai três vezes por semana à academia, e se presenteia com sessões de massagem.

Otávio, que realizou o procedimento aos 150 quilos distribuídos em 1m84cm, inicialmente perdeu 62 quilos. A mudança de hábitos, para ele, foi mais tortuosa. Mais de um ano depois da cirurgia, ganhou cerca de 40 quilos. Foi então que entendeu a importância de voltar a se exercitar e equilibrar a alimentação. Hoje, com 98 quilos, sabe que ainda tem um pouco a perder, mas se mostra tranquilo por saber que está no caminho certo.

Projetos para melhorar a adaptação

Enquanto o número de operados cresce, surgem iniciativas para melhorar o entendimento do processo de adaptação, como o projeto de lei municipal, aprovado em agosto, que inclui o Dia dos Operados Bariátricos (hoje, 11 de outubro) no calendário de datas de conscientização da Capital. Para a presidente da Associação Brasileira de Apoio aos Operados Bariátricos (Gabsul), Bianca Tessele, ajuda a conhecer melhor a realidade antes e depois da cirurgia.

Ainda em tramitação na Câmara de Vereadores, um outro projeto de lei elaborado a partir do crescente número de operados vem gerando polêmica entre associações, entidades e especialistas. A medida propõe, seguindo o modelo de Campinas (SP) – onde já está em vigor –, que restaurantes e bares sejam obrigados a dar desconto no preço das refeições ou servirem porções especiais para quem comprovar que tenha reduzido o estômago por meio de cirurgia bariátrica ou qualquer outra gastroplastia. Para o médico Rogério Friedman, do serviço de endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a medida deve ser vista com cautela:

– Essas propostas criariam áreas de atrito potenciais, porque há pessoas livres do problema da obesidade que já comem menos do que a média e não são contempladas com esses descontos.

Para o especialista, o fundamental é trabalhar com questões educativas para incentivar os pacientes a manter hábitos saudáveis. Para Otávio Gloria, que sempre sofreu de compulsão alimentar, o principal cuidado deve ser em tratar as questões psicológicas de quem realiza a cirurgia:

– Em bufê livre, extrapolava. Hoje sei que o controle parte de dentro, e quando vou a restaurantes, penso bem no que vou comer.

Claudio Mottin, diretor do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS, ressalta a importância de familiares entenderem as mudanças pelas quais passam os operados bariátricos. 




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