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Saúde
Sábado, 30 de julho de 2016, 05h52

Natação é boa opção para tratar fibromialgia, indica estudo


Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que a natação é tão eficaz quanto a caminhada na redução da dor e na melhoria da qualidade de vida de pacientes com fibromialgia.

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Os resultados do ensaio clínico randomizado foram divulgados na revista Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, editada pela American Congress of Rehabilitation Medicine.

“A atividade física está em todas as diretrizes de tratamento da fibromialgia e o que comprovadamente traz mais benefícios são os exercícios aeróbicos de baixo impacto. Mas nem todo mundo gosta ou pode fazer a mesma atividade física, então nosso grupo tem testado alternativas”, contou Jamil Natour, professor da Disciplina de Reumatologia da Unifesp e coordenador da pesquisa apoiada pela FAPESP.

Em um artigo publicado em 2003 no The Journal of Rheumatology, a equipe de Natour havia mostrado que a caminhada é melhor que o alongamento não apenas para reduzir a dor como também para melhorar a depressão e outros aspectos emocionais de pacientes com fibromialgia – além de, como esperado, aumentar a função cardiorrespiratória.

Já em um estudo de 2006, divulgado na revista Arthritis & Rheumatism, o grupo mostrou que a corrida aquática também era uma boa opção para o tratamento da doença.

“A natação ainda não havia sido avaliada com o devido rigor científico e, neste ensaio clínico, apresentou resultados tão bons quanto os da caminhada, que tem benefícios comprovados. Pode ser uma opção mais interessante para uma pessoa que, além de fibromialgia, tem artrose no joelho, por exemplo”, avaliou o pesquisador.

O estudo foi feito com 75 mulheres com fibromialgia e com idade entre 18 e 60 anos. Todas eram sedentárias no início da avaliação. Foram aleatoriamente divididas em dois grupos: 39 submetidas a um treino de natação durante 12 semanas, e outras 36, a um treino de caminhada moderada pelo mesmo período.

As sessões de atividade física eram realizadas três vezes por semana, com acompanhamento de profissionais da área de educação física, e duravam 50 minutos. O trabalho foi feito durante o mestrado de Giovana Fernandes, orientanda de Natour.

Antes do início do treinamento, e após as 12 semanas, as voluntárias passaram por diversas avaliações. O nível de dor foi medido por meio de uma régua numérica que varia de 0 a 10 centímetros (cm). Cada paciente dava uma nota para o nível de dor que estava sentindo no momento.

No grupo submetido a caminhada, em média, o nível de dor caiu de 6,2 cm para 3,6 cm, enquanto no grupo que treinou natação os valores foram de 6,4 cm para 3,1 cm. Segundo Natour, é considerada clinicamente relevante uma redução de pelo menos 2 cm na escala de dor.

Já a qualidade de vida foi avaliada por dois questionários clinicamente validados, sendo um específico para pessoas com fibromialgia (FIQ – Fibromyalgia Impact Questionnaire) e outro de uso na população em geral (SF-36 – Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey).

Melhoras estatisticamente significativas foram encontradas em todas as oito subescalas do SF-36 em ambos os grupos. No aspecto interação social, por exemplo, a pontuação saltou de 56 para 80 no grupo que praticou natação e de 52 para 72 no grupo caminhada. No quesito saúde mental, o grupo natação passou de 55,7 para 68, enquanto o grupo que exercitou caminhada foi de 51,1 para 66,8. O escore varia de 0 a 100 pontos, sendo que, quanto maior a pontuação, melhor a qualidade de vida da pessoa avaliada.

A melhora nos resultados no questionário FIQ foi equivalente nos dois grupos, bem como o resultado da análise ergoespirométrica – que mede o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.) e o limiar anaeróbico (LA).

Tratamento multimodal

Conforme explicou Natour, pacientes com fibromialgia apresentam uma amplificação dolorosa, decorrente de uma falha no sistema que transmite e modula os estímulos nervosos que vão da periferia do corpo até o cérebro.

“Um simples cutucão na perna ou apertão no braço do fibromiálgico pode ser interpretado como um estímulo doloroso. Além dessa amplificação dolorosa, esse paciente também pode ter dor espontânea. É característica da doença uma sensação de dor difusa, sem explicação anatômica, e que perdura por pelo menos três meses”, explicou o pesquisador.

O problema é cerca de 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens e pode ser incapacitante. Além da dor, os portadores costumam sofrer com distúrbios de sono, redução nos níveis de serotonina (neurotransmissor importante para a regulação do humor) e alterações no sistema nervoso autônomo, que controla a contração de vasos e o batimento cardíaco, entre outras coisas. O conjunto de sintomas impacta fortemente a qualidade de vida de pessoas nessa condição.

“Muitas vezes, o paciente não tem nenhum defeito anatômico, como artrose, mas tem um comprometimento até mais grave na qualidade de vida e na função do que as pessoas com doenças articulares. Alguns estudos compararam a situação de pessoas com fibromialgia com portadores de espondilite anquilosante ou artrite reumatoide, ambas doenças deformantes articulares. Além disso, cerca de 30% dos fibromiálgicos também apresentam depressão”, disse Natour.

Na avaliação do pesquisador, por acometer cerca de 5% das mulheres, a doença representa um relevante problema de saúde. “Mas como não mata, acaba aparecendo pouco nas estatísticas governamentais”, disse.

O consenso entre os especialistas atualmente é que o tratamento da fibromialgia deve ser multimodal, ou seja, aliar medicamentos para dor crônica e antidepressivos com exercícios físicos e o controle de doenças concomitantes, como artrose, que podem ser fonte de dor.

“O tratamento com medicamento, na maioria das vezes, não controla a dor por completo e pode ter efeito passageiro”, disse Natour.

Em relação aos exercícios físicos, acrescentou o pesquisador, há mais evidências dos benefícios de atividades aeróbicas, embora exercícios de força também possam apresentar bons resultados. Na opinião de Natour, devem ser evitadas modalidades que possam causar dor.

“Lutar boxe não me parece uma boa ideia. Não tem nenhum estudo mostrando isso, mas é uma questão de bom senso”, opinou. 

Agência FAPESP




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