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Saúde
Sexta, 20 de janeiro de 2017, 06h52

Melatonina pode ajudar no tratamento de mulheres com infertilidade


Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) observaram que a melatonina, hormônio cuja principal função em humanos é regular o sono, atua na formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese) das células foliculares do ovário, relacionadas ao desenvolvimento do óvulo. A descoberta pode ajudar no tratamento de mulheres com infertilidade.

Além de regular várias funções celulares, a melatonina é responsável por carrear informações sobre a duração do fotoperíodo diário, transmitindo dados sobre as variações de luz que ocorrem durante os dias e as noites ao longo do ano e permitindo ao organismo responder com mudanças adaptativas às alterações do ambiente. A suspeita de que o hormônio estaria relacionado à maturação do folículo ovariano surgiu do fato de que há três vezes mais melatonina no líquido que o envolve do que na circulação sanguínea. Além disso, as células foliculares possuem receptores de melatonina.

“O processo de angiogênese é essencial para o aumento das junções do tipo Gap entre as células – canais de partículas cilíndricas que fazem com que as células entrem em contato umas com as outras para que funcionem de modo coordenado e harmônico. Isso permite a chegada de nutrientes e de fatores de crescimento às estruturas foliculares e, ainda, a liberação da produção de esteroides sexuais pelas células foliculares. Assim, a angiogênese folicular é importante para a qualidade do folículo e do ovócito. Descobrimos que a participação da melatonina nesse processo modula o crescimento do folículo ovariano, a unidade básica do sistema reprodutor feminino”, explica José Maria Soares Junior, professor associado da disciplina de Ginecologia e vice-chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP.

A pesquisa Efeito da melatonina sobre a angiogênese das células da granulosa em mulheres com infertilidade submetidas a programa de fertilização in vitro, coordenada por ele e realizada com o apoio da FAPESP, avaliou as vias de ação do hormônio no processo e concluiu que a melatonina em altas concentrações pode ter dupla função: além de facilitar a formação de novos vasos sanguíneos, ela aumenta a expressão de fatores de crescimento e citocinas, proteínas que modulam a função de outras células ou da própria célula que as gerou.

De acordo com Soares Junior, já havia relatos na literatura científica de que a melatonina pode ajudar no amadurecimento do oócito, a célula feminina que está prestes a se converter num óvulo maduro, interferindo na função ovariana. Em seu doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o pesquisador trabalhou na caracterização dos receptores de melatonina nos ovários de ratas e sua interação com o estrogênio, hormônio com ação no controle da ovulação.

Durante a pesquisa na FMUSP, foi observado que determinadas concentrações de melatonina nas células foliculares de mulheres submetidas a estimulação controlaram o metabolismo do estrogênio e de outras substâncias relacionadas ao VGS, um fator de crescimento associado à proliferação de células e importante para o amadurecimento do folículo e do oócito.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores estabeleceram, entre fevereiro de 2014 e março do ano passado, culturas de células foliculares, cujas camadas são chamadas de granulosa, que foram tratadas com melatonina em laboratório. Foram incluídas na pesquisa 20 pacientes com idade entre 20 e 35 anos, atendidas no Setor de Reprodução Humana. As células da granulosa que seriam descartadas durante o processo de fertilização foram removidas e encaminhadas para o cultivo celular, divididas em quatro grupos, sendo três deles tratados com diferentes concentrações de melatonina e um sem tratamento.

De março de 2015 ao último mês de abril, células da granulosa obtidas de outras 68 pacientes da mesma faixa etária foram submetidas a uma nova rodada de estudos. A ação da melatonina foi verificada em todas as células submetidas a tratamento nas duas rodadas, com o aumento da angiogênese variando de 30% a 80%, a depender das concentrações do hormônio. Além de comprovar sua ação, os pesquisadores chegaram a concentrações ideais para tratamento.

“Os resultados indicam que a melatonina tem uma participação importante na regulação do crescimento folicular, com consequências numa melhor qualidade oocitária, e sugerem uma possibilidade de tratamento de mulheres com infertilidade relacionada a baixas concentrações do hormônio ou a problemas nos receptores nas células da granulosa”, diz Soares Junior.

Ainda de acordo com o pesquisador, são necessários novos estudos para que se saiba se o aumento da concentração de melatonina no fluido folicular pode resultar em embriões de melhor qualidade.

Os resultados da pesquisa e de avaliações de outros efeitos da melatonina estão no artigo Melatonin influence in ovary transplantation: systematic review, publicado pelo periódico Journal of Ovarian Research e disponível em ovarianresearch.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13048-016-0245-8. Além de Soares Junior, assinam o artigo Marcos Shiroma, aluno de pós-graduação do programa de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP; Luciana Lamarão Damous, pós-doutoranda do Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular (LIM) do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP; Edmund Chada Baracat, professor titular da disciplina; e Nara Macedo Botelho, pós-doutoranda da disciplina e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Os estudos têm ainda a colaboração de Carla Cristina Maganhin, que realiza a pesquisa Análise de melatonina em mulheres com infertilidade submetidas a um programa de fertilização in vitro: estudo funcional nas células da granulosa, também com apoio da FAPESP, e de José Cipolla Neto, professor titular do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. 

Agência Fapesp




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