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Agro
Segunda, 14 de julho de 2014, 21h42

Boas práticas na coleta ajudam a melhorar a qualidade da castanha-do-brasil em Mato Grosso


Conhecida como capital Estadual da castanha-do-brasil, o município de  Itaúba, no norte de Mato Grosso, tem a coleta da castanha como uma de suas principais atividades econômicas.

De acordo com a Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente e Turismo cerca de 400 pessoas dependem da extração, beneficiamento ou comercialização do produto. 

Um quarto deste contingente é de coletores, que passam seis meses do ano na mata coletando os ouriços, que são os frutos da castanheira.

A atividade extrativista é realizada de forma artesanal, em extensas áreas particulares que são arrendadas por meio de contratos renovados a cada ano.

Normalmente poucas pessoas cobrem uma grande área, o que faz com que os frutos fiquem mais tempo no chão antes de serem
coletados. Isso acaba contribuindo para o apodrecimento e contaminação das castanhas. Além disso, as técnicas de manejo, secagem e transporte não eram as ideais.

Como forma de buscar a melhoria da qualidade da castanha-do-brasil produzida no município, há dois anos pesquisadores da Embrapa iniciaram um trabalho de difusão das boas práticas na coleta.

A atividade era uma extensão do projeto Kamukaia, da Embrapa Acre.

Por meio da mobilização de um grupo de coletores que formaram uma associação, foram realizados encontros para sensibilização e capacitação dos profissionais. Entre os principais focos dos treinamentos estava a necessidade de maior cuidado na coleta, secagem e armazenamento das castanhas. Como o material didático utilizado foi criado para as condições do Acre, onde o extrativismo é realizado em áreas pequenas e dentro de reservas florestais, o conteúdo teve de ser adequado à realidade de Itaúba.

Após o curso, os coletores começaram aos poucos a adotar as mudanças. Entre as ações que passaram a fazer parte da rotina estão maior higiene das castanhas coletadas, secagem em estaleiros à sombra, menor tempo de armazenagem na mata, transporte em veículos limpos, entre outras. A maioria delas, ações que exigem mais uma mudança de atitude e comportamento do que investimento financeiro.

Sadinei Soares Braga, o seu Sadir, gerencia a atividade extrativista na fazenda Dalpai, onde o castanhal é dividido em dez lotes e arrendado para coletores do município. Arrendatário de um dos lotes, ele mesmo já nota diferença com a adoção de algumas destas boas práticas, como a secagem e a redução do tempo na mata.

"Deu diferença na qualidade da castanha, o que dá mais lucro para o castanheiro. Assim, a pessoa que compra uma vez volta para comprar de novo.

Se vender um produto sem qualidade a pessoa compra só uma vez", relata.

MELHORIA NA QUALIDADE

Além do apodrecimento das amêndoas, a não adoção das boas práticas traz um grande problema que é contaminação por aflatoxinas. 

Estes compostos tóxicos são produzidos por fungos e podem causar graves danos à saúde, como o câncer, por exemplo. Por isso, países da União Europeia proíbem a importação da castanha-do-brasil contaminada, o que reduz o potencial de mercado do produto coletado em Itaúba.

"É o ponto mais crítico hoje.

Porque muitos ainda fazem a coleta de uma forma muito artesanal.

Eles coletam na mata e não trazem para a cidade no mesmo dia. Temos de melhorar este processo de coleta para melhorar a qualidade da castanha", afirma o secretário municipal de agricultura, Thiago Tombini.

Pesquisas em andamento na Embrapa Agrossilvipastoril, entretanto, já demonstram que as castanhas coletadas respeitando-se as boas práticas estão livres das aflatoxinas, enquanto o produto de coletores que continuaram com o método convencional apresentava certo grau de contaminação.

Uma amostra analisada, por exemplo, chegou a ter 649 microgramas por quilo de aflatoxina, sendo que a o limite máximo aceito
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária é de 10 microgramas por quilo.

"Acho que houve um pouco de melhora, principalmente no aspecto de armazenamento e no cuidado com lavagem e secagem, mas ainda está longe do ideal", analisa o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Hélio Tonini.

Presidente da associação de coletores criada em 2010, Mauro Soares Fagundes é um dos maiores entusiasta da adoção das boas práticas na coleta. Ele mesmo já vendeu castanha por preços mais altos devido à boa qualidade de suas castanhas. Entretanto, ele alerta sobre a necessidade de uma melhoria coletiva.

"Para chegarmos num patamar igual de preço, temos de igualar a qualidade do produto. Se não tivermos isso será difícil. Se eu vendo a R$ 3 o quilo e outro vende a R$ 2, R$2,50, os produtos de segunda acabam dificultando a comercialização dos de primeira qualidade", explica.

Quem também está de olho na melhoria da qualidade da castanha-do-brasil coletada em Itaúba são as indústrias beneficiadoras. Uma delas se instalou recentemente no município vizinho de Terra Nova do Norte.

Por meio de uma parceria com a cooperativa Cooperagrepa, a empresa tem a meta de comprar de 200 a 300 mil quilos de castanha na próxima safra. Entre os produtos beneficiados estão castanha in natura (quebrada, granulada e amêndoa), óleo e farinha.

Incialmente, a produção irá para indústrias, padarias e restaurantes da região Sudeste. Mas a expectativa é de também exportar o produto.

"Sempre temos esta preocupação com a qualidade. Todo cliente nosso exige certificado de aflatoxina. E as boas práticas na coleta fazem toda a diferença. Tanto é que de dois lotes de castanha que recebemos, um foi acompanhado o tempo todo desde a coleta na mata e o outro não.

Se você comparar as duas castanhas, é visível a diferença. Castanhas da mesma região, coletadas em uma mesma época, mas com níveis de qualidade bem diferentes", relata Ricardo Pirozzi, da BR Nuts.

De acordo com Ricardo, somente com o apodrecimento da castanha mal armazenada, chega-se a ter uma perda de até 60% na hora do beneficiamento.

O trabalho de difusão das boas práticas na coleta de castanha-do-brasil é coordenado pela equipe de pesquisadores da Embrapa
Agrossilvipastoril, com apoio da Embrapa Acre e conta com recursos da Embrapa, Fapemat e do CNPq.

PESQUISA AVALIA MELHOR FORMA DE ARMAZENAGEM

Enquanto um trabalho prioriza as boas práticas na coleta da castanha-do-brasil ainda na mata, outro projeto de pesquisa em andamento na Embrapa Agrossilvipastoril avalia a qualidade do produto no armazenamento.

Estão sendo avaliados materiais já beneficiados pela indústria, em formatos in natura com casca, amêndoas (descascadas), óleo e farinha.

"Estamos avaliando estes produtos para identificar se estão bem armazenados, se a quantidade de água é adequada, se o procedimento de secagem está sendo eficiente a fim de garantir a qualidade do produto", explica a pesquisadora Sílvia Campos.

De acordo com a cientista, a expectativa é de que em um ano seja possível responder a perguntas como qual a melhor forma de armazenagem e se é melhor armazenar o óleo ou guardar o produto in natura para fazer a extração do óleo posteriormente.

Neste projeto, financiado pela Fapemat, são feitas análises de qualidade da castanha, análise microbiológica, contaminação por
aflatoxinas, quantidade de lipídios, selênio, entre outros itens.

ESTUDO MAPEIA DIVERSIDADE GENÉTICA DE CASTANHEIRAS EM MATO GROSSO
Ao mesmo tempo em que trabalha visando a melhoria da qualidade da castanha-do-brasil, a Embrapa desenvolve em Mato Grosso uma pesquisa que busca conhecer melhor a estrutura populacional e a diversidade genética das castanheiras. O trabalho iniciado no fim de 2011 teve como objeto de estudo castanhais presentes nos municípios de Itaúba, Juína, Alta Floresta e Cotriguaçu, além de Xapuri, no Acre.

Neste período, pesquisadores fizeram análises morfológicas e físico-químicas das plantas, estudaram a diversidade e estruturação genética das populações, além do sistema de reprodução e dos padrões de dispersão de sementes e pólen. Dados referentes à estrutura do solo, clima e idade das árvores também foram coletados.

"Com estas informações teremos subsídios para trabalhos de conservação da espécie e até mesmo para trabalhos futuros de
melhoramento genético de castanheira. Se for fazer um banco de germoplasma ou iniciar um programa de melhoramento, saberemos onde pegar genótipos divergentes, onde encontrar plantas contrastantes", explica a pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril Aisy Baldoni Tardin.

Os resultados iniciais mostram, por exemplo, que as árvores da região de Cotriguaçu, mais adentro da Floresta Amazônica, são na média maiores do que as de Itaúba, que está mais ao sul da floresta. As castanheiras de Itaúba, por sua vez, produzem sementes menores, mais espessas e com maior teor de lipídios.

A pesquisa mostra também que o castanhal de Juína apresenta maior diversidade genética intrapopulacional. Entretanto, um dado chama a atenção e comprova uma hipótese prévia da pesquisa. A diversidade genética das plantas nos quatro municípios mato-grossenses avaliados é baixa. De acordo com os pesquisadores, isto é um indício de que os castanhais foram plantados por comunidades indígenas que viviam na região centenas de anos atrás. Na fase final do projeto, será feito um estudo bibliográfico para entender melhor como se deu a formação  destes castanhais pelos indígenas que habitavam a região.

Outros trabalhos com a castanheira estão sendo realizados em Itaúba, onde se encontra uma parcela permanente de estudo do projeto Kamukaia. 

Nessa parcela de nove hectares estão sendo avaliadas a produção de sementes e também a regeneração de castanheiras na floresta, buscando entender os efeitos do extrativismo. 




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