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Agro
Terça, 22 de março de 2016, 11h54

Normatização viabiliza produção de remineralizadores agrícolas


Os produtores rurais poderão em breve contar com uma nova fonte de minerais importantes não apenas para a nutrição das plantas, como o potássio, mas também para melhorar as condições do solo para a agricultura. Os remineralizadores, novos insumos formados por rochas silicáticas moídas, agora podem ser registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para uso na agricultura. As Instruções Normativas nº 5 e nº 6 do MAPA, publicadas em 10 de março, estabelecem as especificações e garantias, as tolerâncias, o registro, a embalagem, a rotulagem e a propaganda dos remineralizadores destinados à atividade agrícola.

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"Este é o início da rochagem do ponto de vista prático", comenta o pesquisador Éder Martins, da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF). Desde 2000, ele realiza estudos sistemáticos sobre diversos remineralizadores oriundos de rochas abundantes no Brasil. "Temos muita informação sobre a eficiência agronômica de vários tipos de rochas como potenciais remineralizadores", aponta Martins, citando os grupos de rochas biotita xisto, ultramáficas alcalinas, alcalinas potássicas, básicas e intermediárias.

Os remineralizadores foram incluídos na categoria de insumos agrícolas pela Lei 12.890/2013. O texto especifica como remineralizador todo "material de origem mineral que tenha sofrido apenas redução e classificação de tamanho por processos mecânicos e que altere os índices de fertilidade do solo por meio da adição de macro e micronutrientes para as plantas, bem como promova a melhoria das propriedades físicas ou físico-químicas ou da atividade biológica do solo".

Além de representar uma alternativa aos tradicionais fertilizantes solúveis, que são geralmente importados, os remineralizadores, devido à solubilidade mais baixa, têm efeito residual por vários ciclos de lavouras. E enquanto a aplicação de fertilizantes solúveis precisa ser parcelada, o que encarece o custo de produção, os remineralizadores são aplicados uma vez para vários ciclos, com efeitos de curto, médio e longo prazos. Podem, ainda, ser usados em combinação com fertilizantes solúveis, de acordo com o manejo do solo.

"Dependemos da importação de 95% do potássio usado na agricultura, sendo que boa parte dos remineralizadores são ricos nesse mineral. Na verdade, eles são multinutrientes, contêm obrigatoriamente cálcio e magnésio", diz o pesquisador. Além de nutrirem as plantas, os remineralizadores podem, dependendo da fonte, contribuir para a correção do alumínio tóxico no solo e melhorar a capacidade de troca de cátions (CTC) do solo, propriedade importante para a retenção de nutrientes.

Segundo o pesquisador, os remineralizadores, transportados a granel, têm viabilidade econômica em nível regional, geralmente num raio entre 100 km a 300 km da origem. Uma avaliação realizada pela Embrapa Cerrados na região do Planalto Central comparou o biotita xisto com o cloreto de potássio (KCl) solúvel em lavouras de soja em dois tipos de Latossolos (textura média e argiloso). Os resultados indicaram que o remineralizador foi mais vantajoso economicamente em relação ao KCl no primeiro ciclo da cultura quando aplicado até 200 km de distância da fonte.

Os remineralizadores são obtidos a partir de um processo chamado cominuição, dividido em etapas de britagem e moagem com diferentes moinhos. Na britagem, os blocos de rochas são reduzidos a fragmentos. Na moagem, os fragmentos são reduzidos à granulometria desejada: farelo, pó e filler, que é a mais fina e a mais cara. O custo de produção de partículas de granulometria entre pó e filler é estimado em R$ 20 a R$ 30 a tonelada.

Exigências legais

Resultado de mais de um ano de discussões promovidas por um grupo de trabalho interministerial formado por representantes do MAPA (com participação da Embrapa), dos Ministérios de Minas e Energia e de Ciência, Tecnologia e Inovação, além da Universidade de Brasília, as novas Instruções Normativas estabelecem dois conjuntos de critérios para os remineralizadores. O primeiro se refere às especificações e garantias que devem ser comprovadas por análises geoquímicas e mineralógicas, como percentuais mínimos da soma de bases (óxidos de cálcio, de magnésio e de potássio) e percentuais máximos de elementos potencialmente tóxicos e de sílica livre, a indicação do pH de abrasão e a granulometria.

Já o segundo conjunto de critérios é relacionado à eficiência agronômica, que deve ser aferida por instituições públicas de pesquisa (Embrapa, universidades e outras instituições de ensino e pesquisa) e outras entidades credenciadas pelo MAPA. "Há várias rochas silicáticas que cumprem os requisitos de soma de bases, mas têm baixa eficiência agronômica. Por isso, os testes em solos agrícolas e culturas da região de origem do produto são necessários, bem como a publicação científica com os resultados", explica Martins.

Mapeamento

Com o aumento do preço do potássio na forma de KCl, os remineralizadores ricos no mineral, que é abundante em todos os grupos de rochas citados pelo pesquisador, deverão receber a atenção do mercado. "Acreditamos que, num segundo momento, as pessoas vão valorizar também o aumento da CTC proporcionado pelos remineralizadores", acrescenta.

A equipe de Martins está realizando o zoneamento agrogeológico do Cerrado e do Sul do País para levantar as regiões agrícolas próximas a formações de rochas silicáticas que podem originar remineralizadores. "Analisamos as condições edafoclimáticas (solo, relevo, clima etc.) da cobertura agrícola e as zonas potenciais de rochas, identificando pedreiras e mineradoras. Em breve, teremos um mapa para indicar as fontes potenciais", explica.

O biotita xisto é a rocha que deve ser matéria-prima dos primeiros remineralizadores a serem disponibilizados aos produtores rurais. "Em Aparecida de Goiânia, Goiânia e Abadiânia (GO), pedreiras já exploram o biotita xisto, subproduto da mineração de brita", observa Martins.

Com a normatização para os remineralizadores definida, surgem novos desafios para a pesquisa. Se os efeitos desses produtos são conhecidos em culturas isoladas, pouco se sabe, no entanto, sobre o que ocorre com o solo em sistemas como os de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que congregam diferentes atividades na mesma área. "Na escala de tempo agronômica, os efeitos dos remineralizadores no aumento da CTC são permanentes. A pergunta agora é: que modificações eles vão promover nos solos sob diferentes sistemas de produção?", indaga o pesquisador. 




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