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Interior de MT
Terça, 19 de abril de 2016, 15h21

Projeto social em Lucas resgata vidas e gera renda


Embora pareça pouco provável, o sistema carcerário, a iniciativa privada e a gestão pública possuem algo em comum: todos precisam buscar soluções inovadoras para lidar com suas complexas demandas. Seguindo essa premissa, o Fórum da Comarca de Lucas do Rio Verde em parceria com a prefeitura municipal, Empresa RE Blocos, Ministério Público e Conselho da Comunidade se uniram para realizar um projeto social que busca resgatar a dignidade de reeducandos da região e gerar renda.

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Para tornar realidade o projeto “Trabalhando para a Liberdade”, há dois anos foi construído ao lado do Centro de Detenção Provisória (CDP) do município de Lucas do Rio Verde um Complexo Industrial com três galpões para a fabricação de artefatos de concreto. Mais do que um espaço dedicado à construção civil, o complexo tornou-se fonte de dignidade e esperança na vida dos recuperandos que vivem no CDP.

Encarregado da prefeitura de Lucas do Rio Verde, Mauro Ribeiro garante que os reeducandos dão muito mais valor para o trabalho do que funcionários comuns que ele já teve. “Eles são ótimos pra trabalhar. Se deixar, eles querem trabalhar todos os dias, são muito dedicados. Tudo o que a gente pede no serviço eles fazem sem reclamar e até com mais capricho. No começo, minha própria esposa não queria que eu viesse trabalhar aqui, por medo. Mas agora sei que é completamente seguro. Nunca aconteceu nenhuma tentativa de fuga ou briga nesses dois anos. Acredito que a maioria deles vai voltar a ser homens de bem”, diz.

Mauro conta ainda que os benefícios dessa parceria impactam até no orçamento da prefeitura. “A economia que a administração pública faz com o trabalho deles é enorme. Eles fabricam meio fio, togo, canaleta, caixa de passagem, gelo seco, floreiras de concreto, pavimentos etc., que podem ser vistos em todos os cantos da cidade. Só de blocos de concreto são 1500 por dia. Para se ter uma ideia, um vaso de flor, que é usado nas praças da cidade, custa no mercado cerca de R$ 200. Com o trabalho dos reeducandos, a floreira sai por menos de R$ 30 para o município. A caixa de passagem, que antes era comprada por R$ 80, está saindo na faixa de R$ 15, também por conta da mão de obra”, relata.

Parceira do projeto, um dos galpões do complexo pertence à empresa RE Blocos. João Paulo dos Santos, gerente comercial da empresa, diz que a parceria se deu por iniciativa do juiz Hugo José Freitas da Silva (magistrado da comarca e idealizador do projeto), que procurou o proprietário da RE Blocos. “Em Sorriso existe um projeto semelhante e por isso o Dr. Hugo foi procurar pela empresa. Então, foi estudada a viabilidade do projeto e há dois anos o implantaram”, afirma.

Sobre o dia a dia de trabalho com os recuperandos, ele concorda com Mauro. “Eu falo para os recuperandos que aqui é uma empresa normal, a gente cobra produção, horário e tudo mais. Eu já trabalhei em diversas empresas e não vejo diferença nenhuma entre eles e um funcionário lá de fora. Muito pelo contrário, a gente vê que eles vêm realmente motivados para trabalhar. E eu falo pra você, é a melhor mão de obra que eu já tive até hoje, não tem problema de falta ou corpo mole e o serviço deles é de primeira”, salienta.

João Paulo relembra ainda o caso de um reeducando, que para ele é o exemplo que um sistema de ressocialização baseado no trabalho funciona. “O Alex fez parte da primeira turma de reeducandos que participou do projeto. Lá ele aprendeu um ofício e hoje deu um novo rumo para a vida dele. Ele começou a trabalhar conosco enquanto ainda estava preso e quando ganhou o alvará de soltura, o convidamos para continuar trabalhando, só que do lado de fora. Eu o indico e assino embaixo, porque é um serviço bom e acho que ele aprendeu a lição dele. Inclusive tenho planos de abrir uma empresa com ele de prestação de serviço. A gente sabe que muitas unidades penitenciárias são apenas depósito de pessoas, mas aqui é diferente! Meus filhos pequenos convivem com eles. São homens que devem pra sociedade, mas que vão sair daqui com uma visão diferente”, revela o gerente.

A presidente do Conselho da Comunidade, Marcela Santana Miranda, explica que o salário recebido pelos reeducandos faz toda a diferença para eles. “Esse salário faz diferença, porque além de eles terem algum dinheiro assegurado para quando saírem da cadeia, ainda podem dar assistência à família. Através de outro convênio entre a prefeitura e o conselho da comunidade, assim que eles ganham a progressão de regime fechado para o semiaberto, eles recebem uma proposta de trabalho lá fora. A falta de emprego e renda não vai será um motivo para que eles voltem a praticar um ato ilícito. Se não houver esse tipo de parceria, o trabalho não acontece”, assinala.

Edemir é um dos recuperandos que trabalham no complexo. Preso há 4 anos e 4 meses junto com o pai e o irmão, ele afirma que o projeto é uma janela que se abre, quando todas as portas pareciam fechadas. “Pra mim, isso aqui é uma grande oportunidade e sou muito grato por isso. Foi Deus que abriu essas portas pra mim. Eu vivia mais no sofrimento, hoje sofro menos e consigo pensar no futuro. Quando eu voltar pra sociedade, vou abrir meu salão de volta e tentar ser feliz do jeito certo”, assegura.

Para o idealizador do projeto, juiz Hugo José Freitas da Silva, o “Trabalhando para a Liberdade” demonstra que bons projetos são aqueles que têm a participação de todos os atores envolvidos e em que todos saem ganhando. “Na execução penal não conseguimos trabalhar sozinhos, precisamos de parceiros que também tenham como objetivo preparar esses homens para voltar ao convívio social”, finaliza o magistrado. 




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