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Nacional
Quinta, 10 de abril de 2014, 21h26

52% dos docentes do ensino médio não têm formação na disciplina que lecionam


 

Apesar de as diretrizes curriculares do ensino médio preverem que cada disciplina deve ser ministrada por professores com licenciatura naquela área, mais da metade dos docentes dessa etapa não têm formação na matéria em que lecionam. Os dados são do Censo Escolar 2013 e foram tabulados pela ONG Todos Pela Educação.

São números que atestam uma realidade muito comum nas escolas do País, em que não é raro encontrar um pedagogo dando aulas de Física e alguém formado em História assumindo o conteúdo de Química. Segundo o levantamento, 51,7% dos docentes do ensino médio no País estão nessa situação.

Numa análise por disciplinas, dá para perceber com mais clareza os principais gargalos. Se Língua Portuguesa - a matéria mais elementar e teoricamente com abundância de mão de obra oriunda dos cursos de Letras - tem quase 30% dos professores sem formação na área, a situação é muito pior nas disciplinas das exatas. Em Física, apenas 19,2% dos professores que atuam na área têm licenciatura no assunto. Em Química o índice é um pouco maior, 32%.

“Dada a centralidade do professor na aprendizagem, esses dados são muito preocupantes. Como ter educação de qualidade com menos de 20% de professores qualificados?”, questiona a diretora executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz. "Isso pode explicar porque o ensino médio não tem avançado. Estamos no mesmo patamar há 10 anos, apesar de o investimento per capita ter dobrado."

Os últimos dados do Pisa - avaliação internacional que mede o aprendizado de jovens de 15 anos em Português, Matemática e Ciências - colocam o Brasil na 58ª posição entre os 65 países participantes. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ensino médio é de 3,7, numa escola de 0 a 10.

Quem quer ser professor?

Para os especialistas, esse cenário que reflete a falta de interesse no magistério, principalmente daqueles com expertises em assuntos muito demandados e bem remunerados pelo mercado, como são os formados nas áreas de exatas. Enquanto o mercado financeiro é conhecido por pagar altos salários, os docentes estão entre os profissionais com curso superior mais mal pagos do País. Professores recebem, em média, o equivalente a 52% dos rendimentos de profissionais de outras áreas com a mesma escolaridade, segundo levantamento do Todos Pela Educação.

Diante disso, diz Priscila, o que as redes fazem é um exercício de "tapar buraco". Muitas, até buscam uma solução menos drástica, como deslocar professores de matemática para as aulas de física e química. Mas como também não há docentes de matemática em abundância, a estratégia não é eficaz. Os números do levantamento mostram que 63,4% dos professores de matemática têm licenciatura no assunto.

"O que me pergunto é quem são esses 50% que dão aula de uma disciplina para a qual não têm formação? Será que não há mais temporários do que deveria?", questiona a diretora do Todos Pela Educação.

Sim, há temporários demais. Uma busca nos Diários Oficiais dos Estados mostram listas de pedidos de exoneração ou de licença por doença. Em vários Estados, o número de professores efetivos é menos da metade do que a rede necessita. O salário de R$ 1.874,50 - rendimento médio de um um professor de Educação Básica no País - não atrai gente interessada nos concursos.

"Apesar de a legislação prever, esse cenário de desencanto com o magistério mostra que nem sempre o desejável é possível. Gradativamente, as condições de trabalho têm piorado. Daí, por falta de mão de obra especializada, as redes fazem uma ponderação simples: é melhor ficar com os alunos na escola e ensinar alguma coisa do que eles não aprenderem nada", afirma a professora Helena Machado Albuquerque, da Faculdade de Educação da PUC.

Um problema crônico, que tem impacto no desenvolvimento do País e cuja única solução, alerta a diretora do Todos Pela Educação, é valorizar a carreira docente e tornar a profissão atraente para o aluno do Ensino Médio. Principalmente para aquele que gosta das disciplinas exatas, as que têm mais carência.

(IG)




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