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Nacional
Quinta, 05 de maio de 2016, 08h21

Maior lagarto da América do Sul é capa do Journal of Experimental Biology


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O Salvator merianae – popularmente conhecido como teiú, tiú ou teju, dependendo da região em que ocorre – é o maior lagarto da América do Sul. Seu coração, como o de várias outras espécies de répteis, é mais simples do que o de aves ou de mamíferos, incluindo o ser humano. São três câmaras – dois átrios e um ventrículo – em vez de quatro.

Essa característica poderia acarretar em diferenças na regulação barorreflexa do animal, operada pelo sistema nervoso autônomo, envolvido no controle da pressão arterial. Mas não é isso o que ocorre com os teiús, de acordo com estudo publicado no Journal of Experimental Biology, com sede em Cambridge, no Reino Unido.

O periódico destaca em sua capa os resultados do trabalho de pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal, sobre como a hibernação, independente da temperatura, não afeta o controle neural da pressão arterial (barorreflexo) do lagarto Salvator merianae.

“A regulação neural do coração pode ocorrer quando a pressão arterial é alterada, por exemplo, por uma mudança postural – como quando estamos deitados e levantamos bruscamente, fazendo com que a pressão do sangue, que deve migrar para a cabeça, não caia”, disse Kênia Cardoso Bícego, responsável pela pesquisa “Participação dos canais TRPV4 na termorregulação de endotermos”, realizada com apoio da FAPESP.

“No ser humano e nos outros mamíferos, é conhecida a importância dessa regulação para evitar a falta de sangue nos tecidos. Em animais de coração com três câmaras essa regulação do coração e dos vasos poderia ser mais relacionada a controlar o aumento da pressão, evitando dano ao pulmão”, disse.

Quando a pressão arterial aumenta de forma significativa, células nervosas conhecidas como barorreceptores enviam sinais ao cérebro para ativar o sistema nervoso autônomo, responsável pelo controle automático do corpo diante de modificações do ambiente.

Em resposta, o sistema provoca a lentidão do coração, a diminuição da força de contração cardíaca e a dilatação das grandes veias e das arteríolas, vasos sanguíneos menores que resultam de ramificações das artérias. Em conjunto, essas reações fazem com que a pressão arterial baixe e se normalize.

O oposto ocorre quando a pressão arterial baixa muito: os barorreceptores fazem com que o cérebro acelere do coração e aumente a força de contração do músculo cardíaco e das arteríolas e das grandes veias – reações que, combinadas, aumentam a pressão e mantêm seu equilíbrio.

Ocorre que os dois átrios e os dois ventrículos do coração de um mamífero fazem com que o sangue que o coração manda para o pulmão seja independente do que vai para o resto do corpo. A pressão nas artérias do corpo é maior que nas pulmonares, que são mais delicadas e poderiam sofrer graves consequências com a ejeção de sangue na mesma intensidade.

Nos lagartos, a circulação do sangue que banha os pulmões e o resto do corpo é igual devido à ausência de uma quarta câmara no coração para balancear a distribuição. A descoberta dos pesquisadores apontou que, apesar disso, a regulação do reflexo provocado pelos barorreceptores nos teiús é semelhante à dos mamíferos e dos crocodilianos, que têm coração com quatro câmaras.

“Dessa forma, pode-se dizer que não só os animais de coração de quatro câmaras regulam primariamente a queda de pressão arterial. O teiú possui ciclo sazonal, alternado entre o verão, com intensa atividade, e o inverno, estação em que o animal hiberna, independentemente da temperatura ambiente”, disse Bícego.

“Essa diferença sazonal de atividade também serviu para determinarmos os efeitos independentes da temperatura no estado metabólico e no controle barorreflexo do lagarto. As respostas da frequência cardíaca frente a alterações de pressão arterial foram as mesmas independentemente do estado de aclimatação”, disse.

Lagarto como modelo

Os pesquisadores buscam agora entender que mecanismos o organismo do animal utiliza para compensar o aumento da pressão, evitando edemas no pulmão. Uma hipótese é a participação do sistema linfático no processo, a exemplo do que ocorre em anfíbios.

“Nos anfíbios, que também têm coração de três câmaras, o sistema linfático – mais complexo do que o dos seres humanos – drena essa possível quantidade maior de líquido extravasado dos vasos sanguíneos, que é 10 vezes mais permeável que nos mamíferos”, disse Bícego. O sistema linfático de vasos circula paralelo ao sistema de vasos sanguíneo, drenando o excesso de líquido que vaza deles.

Outra possibilidade diz respeito ao sistema nervoso parassimpático, parte do sistema nervoso autônomo cujos neurônios se localizam no tronco encefálico ou na medula sacral e que é responsável por estimular ações que permitem ao organismo responder a situações de calma, como desaceleração dos batimentos cardíacos e diminuição da pressão arterial.

“Em anfíbios e répteis, durante aumentos de pressão, a ativação da via parassimpática – envolvida no barorreflexo, que induz uma pequena redução da frequência cardíaca – poderia ativar, em conjunto, uma constrição dos vasos do pulmão, não permitindo que vá muito sangue para o órgão”, avaliou Bícego.

Segundo a pesquisadora, o entendimento sobre o teiú amplia as possibilidades de uso do lagarto como modelo animal a ser estudado e explorado.

“O teiú é um animal ectotérmico, que possui baixa taxa metabólica comparado a aves e mamíferos, e ainda hiberna – isto é, reduz ainda mais a taxa metabólica durante o nosso inverno seco, mesmo que a temperatura ambiente seja mantida constante”, disse.

“Ele ainda pode se tornar endotérmico durante a estação de reprodução, mantendo a temperatura corporal acima da ambiente por produção interna de calor. Tudo isso faz desse animal um excelente modelo para estudar essas variações metabólicas e sazonais e interações dos sistemas fisiológicos num mesmo organismo”, disse a pesquisadora.

Além de Bícego, assinam o estudo Lucas Aparecido Zena, Valter Dantonio e Luciane Helena Gargaglioni Batalhão, do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da FCAV-Unesp, e Denis Otavio Vieira de Andrade e Augusto Shinya Abe, do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, campus de Rio Claro. Os pesquisadores integram o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Fisiologia Comparada, um dos INCTs do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) apoiados pela FAPESP no Estado de São Paulo.

Agência Fapesp




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