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Variedades
Quinta, 10 de dezembro de 2015, 11h36

Novas espécies de moscas são gigantes e têm cara de marimbondo


Os entomologistas acreditam que exista no mundo 1 milhão de espécies de moscas, mosquitos, borrachudos e mutucas, os insetos da ordem Diptera. Cerca de 160 mil espécies foram descritas. Dessas, 12 mil vivem no Brasil, e o número não para de aumentar. Só no mês de novembro foram descritas em dois trabalhos diferentes nove espécies de mosca-soldado e duas espécies de moscas-gigantes, as maiores do mundo. As pesquisas são financiadas pela FAPESP no âmbito do programa BIOTA.

A maior mosca que existe é brasileira, a Gauromydas heros. Esse inseto magnífico mede 6 cm desde a ponta do abdômen até a ponta da cabeça (as moscas comuns medem apenas 0,5 cm). “Há registros de indivíduos com até 7 cm de comprimento”, conta a zoóloga Julia Calhau, que estuda moscas desde 1998, e, particularmente, moscas-gigantes desde 2009, no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP).

“Eu vi a G. heros só uma vez. Foi em 2000, no Parque Estadual do Rio Doce, em Minas. Eu a vi viva, mas não consegui pegar. Elas são muito rápidas”, disse Calhau, que atualmente faz pós-doutorado na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em Dourados (MS).

Do gênero Gauromydas eram conhecidas até o momento quatro espécies, todas nativas da América do Sul. Os mais novos membros do gênero são a G. mateuse e a G. papaveroi, que acabam de ser descritas por Calhau e dois colegas no periódico Zootaxa. O projeto foi apoiado pela FAPESP.

Segundo Calhau, a G. papaveroi mede 4 cm e é encontrada no Pará, no Amazonas e em Santa Catarina, no Brasil, na Argentina e também na Costa Rica, na América Central. Já a G. mateus é um pouquinho menor, medindo 3,5 cm. A espécie só é achada na região de Salta, no norte da Argentina.

“São bichos extremamente raros”, disse Calhau. “As moscas-gigantes passam a maior parte da vida sob a forma de larvas. A fase adulta delas é muito curta.” Não se conhece quase nada sobre os hábitos dos indivíduos das duas novas espécies. Praticamente tudo o que se sabe deriva de estudos da G. heros publicados nos anos 1940 pelo entomólogo tcheco José Francisco Zikán, que emigrou para o Brasil em 1902 e as estudou por 40 anos no Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro.

De acordo com Zikán, as larvas das moscas-gigantes viveriam dentro dos ninhos das formigas-cortadeiras, as populares saúvas. “Estas formigas constroem no formigueiro câmaras de lixo, onde colocam todos os dejetos da colônia”, explica Calhau. “Alguns bichos vivem nesses dejetos, como larvas de mariposa e de besouro. Aparentemente, as larvas da Gauromydas predariam essas larvas.”

Confundidas com vespas

As moscas-gigantes Gauromydas foram por muito tempo confundidas com vespas e marimbondos por causa do seu tamanho e aparência, escreveu Zikán em 1942. De fato, elas lembram muito os marimbondos. “Mas são completamente inofensivas e se alimentam do néctar das flores”, disse Calhau. “As moscas-gigantes não transmitem doenças nem têm importância econômica ou agrícola, mas são bichos magníficos."

O outro grupo de moscas que ganhou novas espécies é o das moscas-soldado, do gênero Acrochaeta. O trabalho do pós-graduando Diego Aguilar Fachin, do departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP, apoiado pela FAPESP e publicado igualmente na Zootaxa, descreveu nove espécies de moscas-soldado. “Elas têm este apelido por duas características”, explica Fachin. “Algumas possuem um padrão de coloração no tórax com faixas horizontais, geralmente verdes e pretas, que lembrariam um uniforme militar. Fora isto, elas também têm espinhos, que remetem à imagem de uma armadura.”

Já eram conhecidas 335 espécies de moscas-soldado no Brasil. A estas se somaram oito novas espécies descritas por Fachin, além de uma outra, que é boliviana. Fachin trabalhou com material coletado no programa BIOTA-FAPESP. Assim como acontece com as moscas-gigantes, “o que chama a atenção nas moscas-soldado do gênero Acrochaeta é que elas são muito parecidas com vespas,” conta Fachin.

As espécies descritas têm um estrangulamento no abdômen, quase uma cinturinha, como as vespas. “As moscas são grandes, variando de 1,5 a 2 cm, com formato de vespas e a coloração de vespa.” Uma hipótese para explicar tal morfologia talvez seja o fato de elas viverem próximas das vespas que não as reconhecem como inimigas, diz ele. “Não fui a campo, mas tenho esta suspeita de que as 'minhas' moscas e as vespas vivam uma ao lado da outra.”

As novas espécies habitam todos os estados da região Sudeste e também Rondônia, Paraná e Santa Catarina. “As duas de que eu mais gosto são a A. polychaeta e A. pseudopolychaeta. Ambas têm as antenas muito compridas, e a última possui uma cerda é muito longa e cheia de cerdas menores", disse Fachin.

Assim como as moscas-gigantes, apesar do tamanho e da cara de perigosas, as moscas-soldado descritas por Fachin são inofensivas e não têm importância médica nem são polinizadoras. “Por isso são grupos de certa forma negligenciados pelos pesquisadores – mas nem por isso menos importantes.”

O artigo Review of the Gauromydas giant flies (Insecta, Diptera, Mydidae), with descriptions of two new species from Central and South America (doi: http://dx.doi.org/10.11646/zootaxa.4048.3.3), de Julia Calhau e outros, publicado na Zootaxa, pode ser lido em http://biotaxa.org/Zootaxa/article/view/zootaxa.4048.3.3.

O artigo Taxonomic revision and cladistic analysis of the Neotropical genus Acrochaeta Wiedemann, 1830 (Diptera: Stratiomyidae: Sarginae) (doi: 10.11646/zootaxa.4050.1.1), de Diego Fachin e outros, publicado na Zootaxa, pode ser lido em: http://zoobank.org/References/2DC16A77-A311-4510-BE47-720292639756.

 




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