Cuiabá | MT 03/05/2024
Maurício Munhoz
Eab7a990b4b3a29c1a3d9cf82d486815
Terça, 22 de outubro de 2013, 10h18

Lendas e mitos que gostamos de ouvir

As lendas e os mitos nunca morrem, elas vão se transformando, às vezes perdendo a intensidade, como uma espiral.
Uma das lendas, ou mito, que gostamos de ouvir em Mato Grosso é que somos uma economia extraordinária. Mas vamos avaliar pelo lado do povo, e tomarmos o IDH como base...

Cuiabá é a primeira cidade de Mato Grosso no ranking do IDH, mas no Brasil ocupa apenas a posição de número 92. E para aqueles que vislumbram os municípios produtores de grãos, como “oásis” de prosperidade, o segundo município de MT na lista do IDH é Lucas do Rio Verde, mas que ocupa apenas a posição de 249 no país.

Alguém pode argumentar que os municípios produtores de grãos do Mato Grosso se destacam constantemente como campeões de produtividade. Isso é certo, nem lenda tampouco mito. Mas o que essa produtividade tem refletido nas condições de vida das pessoas, é o que , segundo a ONU que criou a metodologia do IDH levando em conta a três dimensões básicas da existência humana a) Renda, ou um padrão de vida digno b) Educação, ou o acesso ao conhecimento e c) Saúde, ou vida longa e saudável, parece sem efeito.

É bem verdade que no geral, os IDHs dos municípios de Mato Grosso podem ser considerados intermediários em se tratando de Brasil, mas a exemplo de todo país, o critério renda, que foi o que mais cresceu, teve sua evolução muito atrelada ao fornecimento do Bolsa Família. Ou seja, há muitas famílias saindo do nível de extrema pobreza, mas quase sempre devido ao programa Bolsa Família.

Os piores IDHs do país estão nos estados do Pará e Maranhão. E se lembrarmos que exatamente nestes dois estados passa a ferrovia da Vale do Rio Doce, além de ambos contarem com portos, cabe a reflexão se preparar logística de transportes, apenas para poder escoar produtos primários do Brasil a preços baratos, é um bom negócio para o povo brasileiro.

Aí temos o mito das ferrovias, que elas trazem o progresso. Progresso pra quem? E, por isso, é que projetos de novas ferrovias, como a MT-PA, devem já nascer pensando em democratizar seu espaço, buscando fomentar sistemas de agro industrialização ou outros processos agregados.

O Brasil tem feito o movimento de servir ao exterior desde sua “fundação” em 1500, e continua com esse perfil, sobretudo em estados como Mato Grosso. Vejamos algumas considerações sobre nossa recente relação com a China:

A China comprou, em 2012, US$ 95,6 bilhões em minério de ferro, usou 82% para o mercado interno e exportou US$ 51,5 bilhões em aço. Lembrando que a ferrovia da Vale que corta Pará e Maranhão nasceu para escoar nosso minério de ferro pra China, que o transforma em aço e nos vende.

Agora, se tomarmos a balança comercial China e Brasil, aparentemente temos vantagem, pois em 2012 exportamos US$ 55 bilhões para os chineses e importamos deles US$ 33 bilhões, mas como nós mandamos quase tudo “in natura” e eles nos mandam a grande maioria de seus produtos industrializados, podemos deduzir que os empregos e a agregação de valores ficam por lá.

Além do mais, esse saldo positivo na balança comercial brasileira é o que acaba “justificando” a manutenção de anomalias, como é o caso da Lei Kandir, pois a União alega que ela é importante para o superávit de nossas relações comerciais, mesmo que desestimule a industrialização brasileira e sufoque os municípios e estados, lembrando que Mato Grosso perde algo em torno de R$ 1,5 bilhões ao ano com a Lei Kandir.

Como em tudo na vida, precisamos avaliar Mato Grosso com serenidade, tirando de nossas mentes os efeitos perturbadores dos mitos, como sugeriu Platão no mito da caverna. 

Maurício Munhoz Ferraz, Sociólogo
MAIS COLUNAS DE: Maurício Munhoz

» ver todas

Busca



Enquete

O Governo de MT começou a implantar o BRT entre VG e Cuiabá. Na sua opinião:

Será mais prático que o VLT
Vai resolver o problema do transporte público.
É uma alternativa temporaria.
  Resultado
Facebook Twitter Google+ RSS
Logo_azado

Plantão News.com.br - 2009 Todos os Direitos Reservados.

email:redacao@plantaonews.com.br / Fone: (65) 98431-3114