Cuiabá | MT 06/05/2024
Cuiabá&VG
Sexta, 06 de julho de 2012, 13h36

Pesquisa realizada por docente da Unemat é destaque na revista Fapemat Ciência


 

 

Mato Grosso é um dos maiores produtores de madeira do país. A região Norte do Estado possui cerca de 1,3 mil empresas que lixam, cortam e beneficiam o produto florestal. É um dos nossos principais segmentos econômicos. No entanto, além dos dividendos financeiros, produz também um grande passivo ambiental: pó de serra, aparas, cascas, galhos e capim são resíduos que não recebem uma destinação adequada.

“Existem municípios que estocam há mais de 20 anos resíduos madeireiros por não ter conhecimento de uma finalidade para o material. São vários montes de pó de serra, que chegam a 15 metros de altura (equivalente a um prédio de cinco andares) e até 50 metros de comprimento (tamanho de uma piscina olímpica)”, afirma Wylmor Constantino Tives Dalfovo, doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Pernambuco, professor da Unemat de Sinop.

O pesquisador coordena um projeto em Marcelândia, Mato Grosso, sobre a utilização destes resíduos na produção de energia e adubo orgânico e como combustível para usinas termoelétricas. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Mato Grosso (Fapemat), com apoio da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Agrossilvipastoril.

Segundo Wylmor, a madeira é um bem barato, que foi explorado durante 30 anos sem sustentabilidade nenhuma. Não havia critério sobre a melhor forma de aproveitar os cortes de madeira, o que gerou, ao longo de décadas, um estoque de sobras muito grande. Em 90% dos casos, esse material é deixado ao ar livre, sem cuidado algum, e pode servir de combustível para ocorrência de queimadas. Inclusive, por falta de espaço, algumas vezes o pó de serra é incendiado, emitindo fumaça e fuligem, que podem causar problemas respiratórios.

O pó de serra já causou prejuízo para a região. No dia 11 de agosto de 2010 ocorreu em Marcelândia um incêndio de grandes proporções. Um lixão do município pegou fogo e o pó serviu como combustível para o incêndio, de proporções incontroláveis: empresas, casas, carros, animais foram queimados e centenas de pessoas ficaram desabrigadas. Por não possuir uma destinação, esse resíduo fica nas ruas e nas madeireiras da cidade.

O trabalho coordenado pelo professor Wylmor busca uma maneira de destinar melhor os resíduos é usá-los como combustível para a produção de eletricidade a partir da instalação de usinas termoelétricas. Essas fábricas gerariam uma energia, liberada na forma de calor, por meio da queima das sobras de madeira.

Já o adubo orgânico pode ser produzido a partir do pó de serra. Ele deve ser misturado com outros materiais, como sobras de algodão (sementes) e de milho (palhas e sabugo), carvão mineral, cinzas, fosfato de rocha e água. Após essa união, os materiais recebem o biocatalizador - um líquido que acelera a transformação da soma de todos esses resíduos.

Após esse processo a massa criada, somada ao biocatalizador, ainda precisa descansar durante 20 dias. Esse tempo vai permitir que o acelerador aja e deixe o material homogêneo. O adubo é desenvolvido a partir dessa mistura, é a união desses compostos que dão ao produto a função de fertilizante.

“A produção desses fertilizantes facilitaria o desenvolvimento de atividades produtivas nos assentamentos agrícolas, porque os assentados poderiam ter a indústria instalada diretamente nas agrovilas, sendo inclusive gerenciada pela própria comunidade. Isso os tornaria, em um primeiro instante, autossustentáveis, dando condição de desenvolver práticas agrícolas e gerar empregos e renda”, acrescenta Wylmor. Esse adubo pode ser usado no plantio de vegetais, flores, frutas e algumas culturas como o arroz, feijão e milho.“O estudo está trazendo possibilidades de utilização e investimentos através do setor privado, gerando empregos diretos e indiretos, além da adoção de tecnologias de ponta para a transformação do pó de serra em fertilizante orgânico e energia”, aponta.

O projeto também oferece seus estudos ao setor público, privado e aos demais interessados, como forma de estimular a implantação de usinas termoelétricas e fábricas de adubo. Para Wylmor, a procura por essas pesquisas está ganhando força graças às pressões dos órgãos fiscalizadores, que estão exigindo dos madeireiros o uso racional dos produtos florestais. Com o reaproveitamento das sobras pelas empresas, os danos ambientais vão ser reduzidos e, consequentemente, evitarão as autuações por esse motivo. A Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) são os principais fiscalizadores.

Atualmente, duas indústrias de fertilizantes na região de Marcelândia adotam essa técnica, mas ainda com uma estrutura produtiva muito pequena. A Embrapa, parceira do projeto, está contribuindo com estudos técnicos para impulsionar e melhorar essa atividade. O objetivo é que os assentamentos rurais se beneficiem com o lucro da produção desse fertilizante. “Para a Embrapa, esse tipo de trabalho reforça a capacidade de construção de indicadores, facilita o acesso dela à região, consolida sua área de pesquisa e ainda contribui para o desenvolvimento do local”, acrescenta o coordenador. Segundo os estudos, uma fábrica de adubos pode produzir 15 toneladas por dia, com um investimento total de R$ 972 mil.

A termoelétrica ainda não saiu do papel. Por precisar de um investimento de R$ 3,5 milhões para a produção de 2 MegaWatts/hora, a usina necessita de garantias reais, o que acaba dificultando as negociações iniciais. Com essa quantidade de energia é possível iluminar uma cidade de 25 mil habitantes durante uma hora. Para o pesquisador, esse investimento ainda não é realidade devido ao grande custo para sua construção, mas pode ser alcançado com a formação de cooperativas ou associações entre os madeireiros. Outra vantagem é o retorno financeiro, já que a indústria trabalharia com sobras que normalmente são jogadas fora ou possuem um custo muito baixo.

O desenvolvimento dessas usinas não é importante só para a região, mas também para o país inteiro. “Essa energia gerada pela termoelétrica será vendida para a concessionária nacional para contribuir na oferta energética do País e, com isso, gerar empregos e renda para o município, além de ser uma forma sustentável de produção aliada ao setor madeireiro”, acrescenta Wylmor. Segundo o pesquisador, um grupo de empresários do setor madeireiro já está interessado neste projeto.

Por ser um setor novo e pouco conhecido, a implantação dessas indústrias também sofre a dificuldade da falta de mão de obra especializada. “Quanto à qualificação profissional, por meio da aplicação de questionários em campo, os pesquisadores levantaram indicadores de resistência por parte das pessoas envolvidas. Isso porque essa qualificação demanda investimentos. Porém, já existe a conscientização ambiental de que se deve dar um destino econômico para os resíduos”, aponta Wylmor.

O projeto, que vai até dezembro deste ano, ainda prevê o acompanhamento e assistência às empresas criadas, além de estudar a implantação de cursos técnicos e profissionalizantes nas áreas voltadas para o aproveitamento da serragem. Para saber mais sobre a pesquisa acesse www.unemat-net.br ou ligue para (66) 3511-2124.




Busca



Enquete

O Governo de MT começou a implantar o BRT entre VG e Cuiabá. Na sua opinião:

Será mais prático que o VLT
Vai resolver o problema do transporte público.
É uma alternativa temporaria.
  Resultado
Facebook Twitter Google+ RSS
Logo_azado

Plantão News.com.br - 2009 Todos os Direitos Reservados.

email:redacao@plantaonews.com.br / Fone: (65) 98431-3114