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Economia
Terça, 14 de maio de 2013, 19h56

A volta da inflação


Neste 1º de Maio brasileiro, a inflação foi a grande estrela. Tanto nos discursos governistas como nos palanques da oposição, nenhum tema foi tão destacado. Os comentários na imprensa registraram e amplificaram a polêmica. Quase 20 anos após o Plano Real no governo Itamar Franco e a conquista da estabilidade da moeda, a inflação está de volta, como zumbi rediviva a assombrar os brasileiros.

Deixemos o debate político para os especialistas. Cuidemos do aspecto econômico. A volta da inflação ao centro dos debates simplesmente reflete o fato de que os números são deveras preocupantes. Ao longo dos últimos meses, sistematicamente, o índice da inflação anual acumulada esteve próximo do limite superior do intervalo da meta e bem acima do centro dessa meta, fixado em 4,5%. É como se um hipertenso, um cardíaco ou um diabético vivessem permanentemente com índices próximos aos limites prescritos pela medicina. Qualquer solavanco pode acarretar grande risco.

O índice anual que estava em 4,92% em junho de 2012 alcançou 6,59% em março de 2013, um crescimento de 34% em dez meses. Os economistas sabem que um dos perigos de índices em crescimento constante é que eles geram expectativas de crescimento futuro. Com base em tais expectativas, os agentes econômicos procuram se antecipar e se defender da perda de poder aquisitivo da moeda e tais movimentos tendem a produzir aceleração na dinâmica inflacionária. Por isso, é fundamental interromper o ciclo de crescimento, reverter as expectativas e restabelecer a confiança na estabilidade econômica.

Temos bem próximos de nós dois exemplos a não serem seguidos. A inflação na Venezuela ultrapassou 20% em 2012 e está entre as dez maiores do mundo, apesar do bilionário ingresso de divisas com a exportação de petróleo. Na Argentina, não conseguindo controlar a inflação, também superior a dois dígitos, o governo optou manipular os índices inflacionários,

intervindo nos institutos de pesquisa e modificando os critérios de cálculo. Nos dois casos, a política econômica é conduzida de forma atabalhoada, a golpes de slogans e sem preocupação com a responsabilidade fiscal. A saúde econômica do país é sacrificada no altar da popularidade dos dirigentes nas pesquisas de opinião.

Trata-se de uma tentação a ser evitada. Em 1973, no tempo da ditadura, um ministro da área econômica, o mesmo que preconizava adiar sine die a distribuição de renda, manipulou os índices inflacionários para fabricar a fábula do 'milagre brasileiro'. É preocupante ver que tal personagem sinistro ainda tem certa influência e livre acesso aos círculos do poder.

Outra bobagem a ser prontamente repudiada é a tentativa de criação de mecanismos de indexação de preços, contratos e salários, a exemplo de 'gatilhos' ou similares. Tais artifícios resultam apenas na redução do ciclo de remarcações. Reajustes anuais passam a ser semestrais, bimestrais, mensais etc. em crescimento exponencial.

O Brasil tem instituições democráticas maduras e teve um longo e sofrido aprendizado no combate à inflação. Uma coisa que os brasileiros aprenderam nos longos anos em que conviveram com inflações de três e até quatro dígitos é que esse fenômeno é ruim para todos, mas especialmente cruel para os mais pobres. Aqueles que possuem algumas reservas conseguem se proteger e até lucrar com aplicações financeiras indexadas. Todavia, os que vivem apenas de salários, aposentadorias e pensões, e aqueles que estão endividados com algum tipo de financiamento, são brutalmente atingidos. A inflação é um dos mais poderosos instrumentos de confisco salarial e de concentração de renda.

Por isso tudo, é bom que o debate esteja em curso. É preciso que todos assumam como prioritário o combate à inflação e valorizem a estabilidade econômica como um dos pilares fundamentais do desejado desenvolvimento com justiça social e respeito ao meio ambiente. 




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