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Esporte
Sexta, 06 de abril de 2012, 14h03

Livro usa a experiência da Copa africana para ajudar o Brasil


 Zahira Asmal é aquele tipo de pessoa que, meia hora depois de ser apresentada ao grupo, já arrumou ao menos um assunto com cada um para encompridar a conversa. Cheia de energia, ela está nesta noite em que nos encontramos em Joanesburgo, se isso é possível, ainda mais empolgada. O motivo da empolgação ela carrega nas mãos: o livro “Reflexões e Oportunidades – Design, Cidades e a Copa do Mundo”, edição bilíngue inglês-português que ela mesma bancou e vem lançar no Brasil: em São Paulo, no dia 25 de abril, no Instituto Tomie Ohtake, em Porto Alegre no dia 30 de abril e no Rio de Janeiro em data a confirmar, já que a programação de uma semana inclui várias outras atividades. Em São Paulo, além do lançamento do livro, Zahira acompanha o grupo de seis convidados que está trazendo da África do Sul em um seminário no dia 26, na Fundação Getúlio Vargas, e em uma aula-palestra na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).


O tema do livro é a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, e mais especificamente o que o Brasil pode tirar de exemplo, e de lições, da experiência sul-africana. “Como sul-africanos, nós ficamos muito orgulhosos com a nossa Copa do Mundo, mas restou um sabor na nossa boca de que a Copa foi mais um evento da Fifa na África do Sul do que especificamente uma Copa sul-africana.” Ela acredita que, baseada na experiência sul-africana, ainda dá tempo de o Brasil evitar alguns erros cometidos, e partir em busca de uma Copa mais, digamos, nacional. E, mais ainda, de enxergar a Copa como um momento propício para repensar as cidades brasileiras, assim como aconteceu com a África do Sul. “Acho uma perda de tempo, e desperdício de dinheiro, o Brasil partir do zero no planejamento da Copa, se nós podemos ajudar com tantas informações. Nós somos duas economias em desenvolvimento, dois países com problemas sociais e estruturais parecidos, e podemos nos aproximar para nos ajudar e trocar experiências. Acredito que a diferença de língua e o vôo de avião que nos separa não deve ser um empecilho.” Na África do Sul, além do inglês, há outras 10 línguas nativas oficiais. E o vôo direto São Paulo-Joanesburgo leva oito horas (e um pouco mais do que isso na volta).

O projeto do livro surgiu como um objeto de pesquisa e começou a tomar forma em 2009. O conteúdo é uma colaboração involuntária entre 10 jornalistas internacionais, que cuidaram da parte que se refere às “Reflexões”, e três acadêmicos sul-africanos e um professor brasileiro, Oliver Stuenkel, que ensina Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, que falaram sobre “Oportunidades”. Os jornalistas escolhidos por ela, de publicações como os ingleses Wallpaper e Financial Times, a alemã Novum, a italiana Habitare, a japonesa Axis, a brasileira AgitProp, a sul-africana City Press e outras revistas que falam de estilo de vida, dos espaços que as pessoas habitam e da vida nos centros urbanos, foram convidados por Zahira para individualmente conhecer a África do Sul e alguns de seus aspectos. Cada roteiro foi diferente do outro, e pensado sob medida. “Não toquei nos textos, mas fui a editora do livro no sentido de que escolhi as publicações e o que ia mostrar para cada uma delas. O foco da publicação japonesa Axis, por exemplo, foi o transporte público, e assim por diante”, explica Zahara.

Dos 15 jornalistas convidados, quatro fizeram a viagem antes da Copa, dois deles durante e os demais depois. Então, de volta para os seus países, todos escreveram matérias para as suas respectivas revistas. Das 15 publicadas, 10 estão reproduzidas no livro. As outras cinco podem ser lidas no site da organização que Zahira fundou: WWW.designingsouthafrica.com. Os acadêmicos convidados para entrar no livro estavam fazendo trabalhos sobre a África do Sul, as cidades e a Copa do Mundo, e tinham idéias que interessaram Zahira durante o ano que ela dedicou à pesquisa do tema, como aconteceu com o professor brasileiro, que assina o texto “Os Brics e a ponte para o Brasil”.

Zahira no Brasil

Formada em Macroeconomia Internacional na Universidade de Cape Town, interessada em Arquitetura e Design, Zahira já esteve uma vez em Brasília e duas em São Paulo, e lista os lugares que visitou: o Masp, o Sesc Pompeia, o Parque Ibirapuera, o Instituto Tomie Ohtake, o Edifício Itália. Deste último, a lembrança inesquecível foi o skyline de São Paulo sendo cortado pelos helicópteros. Do Instituto Tomie Ohtake, já saiu com a oferta de fazer ali o lançamento do seu livro.


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Zahira tem esse jeito rápido de se aproximar das pessoas e de envolvê-las no seu projeto. Que agora, além de lançar o livro no Brasil, significa produzir material para fazer o mesmo livro com a experiência brasileira como anfitriã da Copa do Mundo. Aproveitando a aproximação do mundial ela pretende, em breve, incluir o país na lista dos seus endereços pelo mundo. Atualmente, Zahira -- nascida na África do Sul filha de pai indiano e mãe iraniana -- vive metade do ano entre Joanesburgo e a Cidade do Cabo, e a outra metade em Londres. “Quero passar um terço do tempo na África do Sul, um terço na Europa e um terço no Brasil. Estou trabalhando para isso.”

Impossível não acreditar que ela logo tenha um CEP brasileiro.Trabalha a seu favor a sua facilidade de se envolver em um debate com alguém que acabou de conhecer, sua energia para fazer as coisas acontecerem e a sua própria aparência. Pele morena, cabelos pretos, olhos esverdeados e sorriso escancarado, ela tem um tipo físico mediterrâneo que poderia ser atribuído a uma grega, uma italiana, uma espanhola, uma egípcia, uma descendente de árabe e, bem tranquilamente, uma brasileira. O fato de ela ser uma mulher envolvente com uma idéia na cabeça também não atrapalha: em dois minutos ela se torna o centro das atenções.

Confira o bate-papo com ela, que aconteceu em duas etapas, a primeira em Joanesburgo e a segunda na Cidade do Cabo.

iG: Qual foi um toque sul-africano de que você sentiu faltou na Copa?
Zahira Asmal: Nós temos um sanduíche típico, o Boerewors Rolls, que é a comida oficial dos estádios (espécie de hot-dog com lingüiça feita de carne de boi e de porco, que você apimenta a gosto, e pode temperar com molho de chili). Por uma decisão da Fifa, ele foi banido dos estádios. Além dos torcedores não poderem comer o que estão acostumados quando vão assistir aos jogos, os visitantes internacionais não puderam provar o sanduíche, o que frustrou os sul-africanos. Havia milhares de visitantes, era uma boa hora de mostrar um pouco da cultura local nos estádios.

iG: Alguma coisa mais na organização poderia ter sido feita de maneira diferente?
Zahira Asmal: Uma coisa que eu contestei desde o início foi a venda dos ingressos ser feita exclusivamente pela internet. Ao contrário do Brasil, na África do Sul a internet ainda não é um meio tão popular, apenas 10% da população usa a internet. O fato de as pessoas não poderem comprar os ingressos de forma convencional, indo a um guichê, pagando e levando o ingresso físico para casa, a fez se sentirem excluídas. Sei que no Brasil, mesmo que em menor escala, isso corre o risco de acontecer também. Já mencionei isso para a Fifa e eles me disseram: nós somos a Fifa e é assim que fazemos as coisas. Argumentei que eles deveriam considerar a mudança e eles disseram: não podemos mudar o nosso sistema.

iG: Então quer dizer que eles não estão abertos a adaptações locais. Como fazer para “nacionalizar” a Copa sem o apoio da FIFA?
Zahira Asmal: Temos que dialogar com eles, envolver a população na discussão, conseguir o apoio da mídia, ouvir a opinião das pessoas. Eu incentivo a participação de todos, quero que cada um dos brasileiros se pergunte: o que eu posso fazer pela Copa do Mundo? Porque esse é um momento de visibilidade ainda maior para o Brasil, é uma boa hora de mostrar um novo Brasil para o mundo.

 

iG: Nós brasileiros estamos preocupados especificamente com o prazo para as construções dos estádios, infra-estrutura de transporte, as condições de segurança e o custo dessa Copa para o Brasil. Você ouviu alguma coisa sobre isso?

Zahira Asmal: Um brasileiro, envolvido com a Fifa, me disse que tem certeza de que o Brasil vai estar preparado para receber a Copa quando chegar a hora, e que a Copa no Brasil vai ser uma grande festa, mas que vai custar 10 vezes mais do que deveria custar. E me disse mais: que os brasileiros não se incomodam de pagar a conta. Aqui na África do Sul o custo da Copa foi de R$ 80 bilhões de rands (US$ 1 bilhão), e foi três vezes mais alto do que deveria. Nós sul-africanos gritamos e esperneamos por conta disso.


iG: E você, nas suas idas ao Brasil, o que sentiu da infraestrutura e dos serviços brasileiros?
Zahira Asmal: Estive em São Paulo duas vezes, em janeiro do ano passado e depois em dezembro. Em uma das viagens, tive de fazer uma escala de 5 horas no aeroporto internacional de São Paulo (Cumbica). Foi uma experiência terrível. O aeroporto não tem a menor estrutura para o turista, e em nada ele representa São Paulo. O centro de São Paulo é tão rico, e o aeroporto não reflete nada disso. O aeroporto deveria ser melhor sinalizado, ter bons restaurantes, lojas de música, de roupa, de Havaianas. Eu fiquei 5 horas lá, poderia ter gasto muito dinheiro. Mas eu mal consegui comer. E o aeroporto internacional de São Paulo deveria ter um curador e exposições da obra de artistas locais, para você poder conhecer um pouco o Brasil no tempo que ficar lá.
iG: Como a experiência sul- africana pode nos ajudar?
Zahira Asmal: Nós mudamos quase todos os nossos aeroportos para a Copa. Eu viajo para São Paulo agora com seis convidados, entre eles Victor Utria e Jonathan Manning, os dois designers que fizeram os projetos dos aeroportos de Cape Town e Joanesburgo. Além do lançamento no dia 25, faremos um simpósio no dia 26 na FGV, para discutir o design e como ele pode melhorar as cidades, e uma palestra no dia 27 na ESPM, só para alunos e professores, para discutir o exemplo sul-africano. Dia 27 de abril é um dia muito simbólico para mim. Gostaria de ter feito o lançamento do livro em São Paulo neste dia, mas soube que é no meio de um feriado e que seria melhor antecipar para o dia 25. Dia 27 de abril faz 18 anos da eleição que elegeu Mandela presidente da África do Sul. Eu era uma adolescente de 16 anos e fui à votação com meus pais. Ficamos três horas na fila até chegar a vez deles – eu, aos 16, não podia votar --, e foi um dia inesquecível para mim. 




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