Cuiabá | MT 02/05/2024
Kharina Nogueira
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Terça, 28 de dezembro de 2010, 15h53

E a educação?! Vai bem?

A escravidão educacional é nitidamente a “barbárie brasileira”, cujas conseqüências ainda subjugam a sociedade, principalmente quando o assunto é pobreza, discriminação e afirmação étnico-social.
É fácil perceber que nos tempos vagos entre as aulas, algo comum no dia-a-dia das escolas públicas em todo o Brasil, os adolescentes rimavam, improvisavam e desenhavam com muita facilidade, demonstrando a capacidade crítica inclusive com os temas escolhidos em suas artes. Além disso, o dom da oralidade também chama a atenção. Contudo, ao mesmo tempo em que apresentavam tão rica manifestação cultural,esses adolescentes recusavam suas origens no ambiente escolar. Essa recusa denuncia a presença e permanência de políticas discriminatórias brasileiras desde a época dos cativeiros. A escola, ao não reconhecer e contextualizar a importância da história da comunidade que atende, e não relacioná-la com o presente dos alunos, perpetua a formação social e cultural do preconceito brasileiro.
Essa constatação é a prova de que durante a história do País não houve aniquilação da cultura dos povos que sofreram com tais políticas, e sim recombinação, reinvenção, recriação, ou seja, está aí outro tipo de “marca humana” — no caso, o desejo de construir e não o de destruir.
Contudo, a atualidade da escravidão brasileira, ainda, aparece no cotidiano do brasileiro. A formação social brasileira está longe de elaborar e superar esse trauma que permeia as instituições de ensino e os espaços jurídicos do País. Para isso, é essencial e possível ensinar aos alunos que eles podem e devem “atualizar as suas tradições começando pelas locais, tradicionalizando suas origens e interagindo aos que nela convive seguindo a nossa cultura nacional, a fim de se apropriarem do passado, para construírem seus projetos futuros.
A verdade é que os ritmos e o desenvolvimento da criança, o fruto final e mais complexo de uma evolução de bilhões de anos da natureza e de condicionamentos vastos e complexos, tanto em nível externo quanto interno, foram ultrassimplificados para caberem na forma da ideologia dominante, reduzidos a uma mera extensão da questão política maior: a libertação das classes oprimidas. Nós temos sorte de essa gente não ter ainda revogado a lei da gravidade! Ignorando o ritmo da maturação biopsicossocial da criança e o nível evolutivo da sociedade brasileira, nossa elite alçou, por decreto, a criança à condição de cidadã, capaz de questionar até o padrão de avaliação de um professor, totalmente desapropriado na maioria de sua competência profissional, quando a precariedade natural de seu desenvolvimento mental só consegue lidar com antinomias do tipo quem manda, manda tudo, quem obedece, obedece em tudo; como é próprio dos ignorantes, dos imaturos e dos ideólogos da nova escola brasileira.
O resultado não se fez esperar e o seu auge, eu acho, já nos alcançou. As escolas públicas de hoje são compelidas, antes de tudo, a fazerem o seu projeto político-pedagógico como se uma escola pública pudesse ter outro projeto político que não o previsto na Constituição e nos códigos legais que regem a sociedade organizada por esse estado, e que não pode ser reduzido ao canto de sereia da ideologia do grupo no governo, nem tratar as crianças como se fossem adultos amadurecidos (cidadãos) e a escola uma comunidade que prescindisse da comunidade maior, antes mesmo de terem uma proposta psicopedagógica que abranja a criança na sua especificidade, nas particularidades do seu processo evolutivo natural. Boa parte dos professores não sabe como uma criança “funciona”, como se dá o seu processo de aprendizagem, de como os obstáculos afetivos impedem essa mesma aprendizagem etc. Isso não é mais importante?
Ao tentar atrelar-prender as escolas ao padrão da abordagem ideológica dominante, desvinculada das leis que regem o nosso estado, nós esfarelamos o sistema, reduzindo a sua capacidade de preparar o homem e a mulher do futuro, e se a ideologia dominante, como ocorre agora, nos convida a nos sentir mal conosco mesmo, a nos ver como malvados exploradores, enquanto estimula “a criação de heróis populares guerreiros e brutais”, aonde esperamos chegar?
Aliás, não chegamos, como comprova os últimos resultados no Brasil, quando somos o Estado mais aquém quando o assunto é a educação e no mesmo passo convencional a minoria, segue o país.
Para quem ainda não se cansou de pensar neste país vale a pena questionar sobre o tema: Educação. Não estou escrevendo abstrações tipo senhores e escravos, termos cujo significado e abrangência dependem da simpatia e/ou antipatia de quem os utiliza, mas sim para seres humanos reais, que sentem, pensam, se emocionam. A nossa história é feita por pessoas, por seres humanos reais, e não por abstrações acadêmicas, que têm o seu lugar, sem dúvida, mas não podem jamais substituir as pessoas em todas as análises possíveis. Deixo aqui a minha denuncia a violência latente, subliminar, que nos envolve muitas vezes a pretexto de refazer injustiças históricas, e outras boas causas e nos arrasta para atitudes tão impensadas como a do goleiro Bruno, recentemente e etc. Para muitas pessoas causa boa é aquela que as favorece. Isso tudo me angustia muito, porque não sou uma professora, nem ao pior resido em promessas eleitorais, mas sugiro que nós não sejamos escravos de tudo aquilo que não aceitamos discutir.

Kharina Nogueira é Colunista Social e Relações Públicas
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