Cuiabá | MT 02/05/2024
Kharina Nogueira
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Quarta, 09 de março de 2011, 09h14

Mulheres. Por que tantas vozes se calam?!

Aproveitando a semana em que instituições, Governo e autoridades debaterão sobre a violência contra a mulher, na tentativa de amenizar e repreender a omissão a uma situação cada vez em maiores proporções, mais real e escancarada eu exponho esse artigo na defesa de tantas outras que no meu lugar se calam.

 

A violência doméstica aparece em todas as camadas sociais em diferentes momentos históricos, mas nas camadas populares ela se torna pública em virtude da denúncia que são apuradas com maior vigor e do decorrente acompanhamento ou intervenção dos órgãos públicos. As camadas altas da sociedade mantêm o anonimato e compram a discrição através dos atendimentos particulares, quando o fazem...

 

Lasch (1991), em seu livro Refúgio num mundo sem coração, tenta recuperar os percalços da família no último século. O autor pontua que, com a selvageria crescente do mundo dos negócios e da política, o homem procura refúgio na família; entretanto ela aparece gradativamente mais frágil e incapaz de acolher esse sujeito carente. Afirma que a família contemporânea é produto da ação humana e do controle social e não de forças sociais abstratas. Lasch fala sobre a sociedade moderna e o controle social antes relegado às famílias ou aos indivíduos, afirmando que o Estado controla o corpo, o espírito e a vida privada dos sujeitos. Se alguns críticos apontaram Lasch como um admirador da família burguesa ou um nostálgico defensor da família patriarcal, entendemos que o autor imprime o diálogo crítico com a Antropologia, a Psicanálise e a Sociologia e, sem recorrer a versões ortodoxas sobre as relações familiares, promove um debate instigante, apontando a família como agente de socialização que reproduz padrões culturais no indivíduo.

 

Embora se continue a valorizar mais a agressão física na violência doméstica, pelas razões óbvias das suas conseqüências visíveis (e ultimamente a contribuírem assustadoramente para a dramática estatística dos homicídios qualificados), o “abuso emocional”, excluindo o risco de vida imediato, mesmo sendo causa relativamente freqüente de suicídios, tem, quase sempre, conseqüências trágicas na vida emocional e afetiva das vitimas.

 

As armas utilizadas na destruição da identidade da vítima é a violência, em múltiplas formas, claras ou dissimuladas; o sarcasmo, o ridículo, a mentira ou distorção grosseira da verdade; o isolamento familiar, social e afetivo; a discriminação, a depreciação, a humilhação e a indiferença pelos sentimentos e o desprezo pela pessoa; o abuso sexual, o controlo absoluto de todos os passos e a vitimização, com inversão dos papéis. Por vezes, o contexto em que se desenrolam todas estas agressões formata-se como uma relação de senhor (a)/criada(o) ou patrão(patroa)/empregada(o), explorando apenas as utilidades do casal mas sem lhe conceder laços afetivos.

Na atualidade, a manutenção e o agravamento destes comportamentos, em oposição a uma maior abertura sentida em relação à igualdade dos direitos do gênero e à defesa da individualidade radicam-se na impunidade social de que gozam (a abrangência das leis sobre a violência doméstica ainda não contempla o abuso emocional), e no espírito que governa a administração formal, ou informal, da justiça, tendenciosamente contrário às leis do condicionamento operante, que, como se sabe, influenciam de forma capital os nossos comportamentos, ao mantê-los e ao aumentar a sua freqüência se existirem reforços nas suas conseqüências (no caso, pelo prazer de dominar), ou a extingui-los ou debilitá-los se os resultados forem negativos (punição ou ausência de reforço).

 

Evidentemente que um comportamento que contempla um maquiavelismo comportamental terá que ter, nas variáveis psicológicas, também um determinante essencial. A legislação tem que ser adequada a este tipo de agressões e a forma do seu reconhecimento divulgada amplamente em campanhas de informação. Para que a intervenção legal ocorra é, evidentemente, decisivo o conhecimento dos fatos, o que sugere uma grande necessidade de que este tipo de agressão seja bem tipificado e considerado “crime público”, o que aumenta as probabilidades da sua denúncia e tratamento jurídico.

 

Mas, é na prevenção que, nesta área, tal como em quase todas as outras situações de abuso deve incidir o maior esforço social, através de campanhas, oficiais ou oficiosas que, com maior ou menor complexidade filosófica ou prática transmitam, de forma impressiva que, na verdade, a origem deste e de muitos outros problemas de relacionamento social e afetivo reside no fato de não entendermos que, entre nós, somos todos iguais.
 

Kharina Nogueira é Colunista Social e Relações Públicas
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