Cuiabá | MT 29/04/2024
Onofre Ribeiro
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Terça, 25 de janeiro de 2011, 16h43

Professor Aecim

Neste domingo, minha mulher Carmem e eu, tivemos a felicidade de estar no almoço de 50 anos de casados do Professor Aecim Tocantins e de dona Celita, no Hotel Fazenda Mato Grosso. Escrevo este artigo em homenagem aos 50 anos do casamento deles, mas também, pelo que representou como referência da cultura cuiabana.

Gostaria de comparar o ambiente solene e delicado do almoço do casal Tocantins, com o ambiente solene e delicado das antigas festas cuiabanas. Moro em Cuiabá há 34 anos completos. Encontrei ainda aquele ambiente cuiabano tradicional que me encantava. Talvez porque eu goste muito de algumas formalidades, mas o jeito de conversar e de reunir publicamente era delicado. Aliás, educado, delicado e respeitoso. Recordo-me das senhoras maquiadas com discrição, fala baixa, deslizando pelos salões de festas, e os homens sem exagero nas bebidas e um tratamento muito respeitoso. Aquilo me encantava.

Na festa do Professor Aecim voltei a encontrar aquele mesmo ambiente. Suas festas sempre deixam um espaço para o antigo sarau, com poesias, músicas pessoais e uma fala sua, do jeito que ele gosta: curta e direta, sem perder a ternura.

A música foi da banda do Júlio Coutinho. Ele e sua Márcia mantiveram o figurino de anos passados: rasqueados e deliciosos boleros a meio tom de altura, com ambiente pra se conversar. Delícias como “La barca”, “El reloj”, “Aquellos ojos verdes”, “Perfídia”, clássicos como “La mer”, e tantas outras músicas que já deliciaram salões de bailes, dos saraus cuiabanos e das tardes dançantes em casas de família lá pelos anos 60 e 70.

Foi extraordinário encontrar amigos de outras datas, que há muito não via. Não vou citar nenhum além do Professor Aecim e de Dona Celita, para não cometer equívocos. Vi gente de cabecinha muito grisalha, de cabelos menos grisalhos e muitos jovens. Fiquei pensando se muitos desses mais jovens se comoveram com as bodas de ouro do casal. Não faz mal. Para eles terá sido uma referência importante para laços familiares, laços de amizade, para reencontros. Gostei muito dessa ressocialização e da certeza de que os antigos troncos familiares cuiabanos, ao contrário do que possa parecer, se mantém vivos, fortes, atuantes e influentes.

Claro que em todas as famílias existem casamentos entre os mais jovens, fora do círculo tradicional, mas estão devidamente institucionalizados na sociedade cuiabana. As gerações mais novas de Cuiabá precisarão dessa referência social e cultural para construírem o futuro. Cuiabá é dessas cidades destinadas a ter ares e papel de metrópole. Esse tipo de cidade precisa ter uma cultura de acolhimento pessoal, familiar tecnológico e, sobretudo, humano.

Quando aportei em Cuiabá, em 1976, a cidade tinha 100 mil habitantes, a maioria restrita aos círculos tradicionais. Aos poucos foi se miscigenando e tornou-se uma cidade de acolhimento universal com essa cara cosmopolita de agora.

A festa do Professor Aecim e Dona Celita mostrou bem isso. De repente, numa festa familiar emergiu uma cidade humana, acolhedora e tradicional, diluída entre prédios, ruas, condomínios e casas, depois de uma longa estória de quintais, de varandas e de cadeiras nas calçadas.

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso onofreribeiro@terra.com.br
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