No ano de 1980, era editor da Revista Contato, uma publicação mensal que mantínhamos em Mato Grosso, junto com Eugenio de Carvalho, Vilson Minossi, João Roberto Curti, João Roberto de Francisco e José Pedro de Freitas, fiz uma entrevista histórica. Às vésperas do primeiro censo do novo estado, depois de separado de Mato Grosso do Sul, entrevistei o delegado regional do IBGE no estado, o professor Nelson Pinheiro, tio do depois senador Jonas Pinheiro.
É bom lembrar que depois de 1973, Mato Grosso recebeu uma grande onda de migrações de gente vida de todo o Brasil na política do governo federal, de ocupar a Amazônia dentro do lema “Integrar para não entregar”. Perguntei ao professor Nelson Pinheiro que tipo de mato-grossense ele esperava encontrar no censo depois de tantas migrações. Ele respondeu com naturalidade: “espero encontrar um bugre de olhos azuis”, recordando o estereótipo do caboclo pantaneiro. Vale recordar que em 1970, a população do Norte, que se manteve como o atual Mato Grosso, era de 598 mil habitantes, segundo o próprio IBGE. Em 1980, o censo detectou 1 milhão 139 mil habitantes. A diferença entre os habitantes de 1970 e dos de 1980 seriam os “bugres de olhos azuis”, mistura racial entre mato-grossenses anteriores e os migrantes.
Dez anos mais tarde voltei a entrevistá-lo, já aposentado, de cabelos brancos, e nos lembramos da conversa de 1980. Ele me contou que em sua casa tinha netos “bugres de olhos azuis”, porque seu filho, “bugre como eu”, casou-se com uma moça nascida em Santa Catarina, filha de pais alemães e italianos.
Passados 40 anos desde o começo da ocupação da Amazônia, pretendida pelo governo federal, a população de Mato Grosso saltou daqueles modestos 598 mil para os 3 milhões e 33 mil do censo de 2010. Crescemos 507%. Os 2 milhões 435 mil da diferenças, em tese, são antigos e novos “bugres de olhos azuis”, uma miscigenação racial muito forte, envolvendo migrantes do Brasil inteiro que aportaram no estado desde 1973. Nossos filhos e netos são todos “bugres de olhos azuis”. Em minha casa a mistura foi enorme e muito diversificada como, de resto, em todo o estado.
O mérito disso está na quebra de amarras e a abertura de todos para a absorção de atitudes novas e destemidas que tem colocado Mato Grosso num patamar de inovações e de produção relevante no Brasil. Veja-se a questão do agronegócio, na qual o estado é líder nacional, apesar de todas as variáveis contrárias.
Aliás, esse assunto puxa outro, que é a percepção de que Mato Grosso será, conforme anteviu Dom Bosco em 1883, “a terra da promissão, farta de pão e de mel”. Mas isso é outra conversa...!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso onofreribeiro@terra.com.brPlantão News.com.br - 2009 Todos os Direitos Reservados.
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